Serão de mortos anjinhosO cantar de errantes almas?Dos coqueiros florescentesA brincar nas verdes palmas,Estas notas maviosasQue me fazem suspirar?São os sabiás que cantamNas mangueiras do pomar.Serão os genios da tardeQue passam sobre as campinas,Cingindo o collo de opalas,E a cabeça de neblinas,E fogem, nas harpas de ouroMansamente a dedilhar?São os sabiás que cantam,Não vês o sol declinar.Ou serão talvez as precesDe algum sonhador proscripto,Que vagueia nos desertos,Alma cheia do infinito,Pedindo a Deus um consoloQue o mundo não póde dar?São os sabiás que cantam.Como está sereno o mar!Ou quem sabe as tristes sombrasDe quanto amei n'este mundo,Que se elevam lacrimosasDe seu tumulo profundo,E vêm os psalmos da morteNo meu desterro entoar?São os sabiás que cantam.Não gostas de os escutar?Serás tu, minha saudade?Tu meu thezouro de amor?Tu que ás tormentas murchasteDa mocidade na flor?Serás tu? Vem, sê bem vinda,Quero-te ainda escutar!São os sabiás que cantamAntes da noite baixar.Mas ah! delirio insensato!Não és tu sombra adorada!Não ha canticos de anjinhos,Nem de phalange encantadaPassando sobre as campinasNas harpas a dedilhar!São os sabiás que cantamNas mangueiras do pomar!Fagundes Varella,Ibidem, p. 34.
Serão de mortos anjinhosO cantar de errantes almas?Dos coqueiros florescentesA brincar nas verdes palmas,Estas notas maviosasQue me fazem suspirar?São os sabiás que cantamNas mangueiras do pomar.Serão os genios da tardeQue passam sobre as campinas,Cingindo o collo de opalas,E a cabeça de neblinas,E fogem, nas harpas de ouroMansamente a dedilhar?São os sabiás que cantam,Não vês o sol declinar.Ou serão talvez as precesDe algum sonhador proscripto,Que vagueia nos desertos,Alma cheia do infinito,Pedindo a Deus um consoloQue o mundo não póde dar?São os sabiás que cantam.Como está sereno o mar!Ou quem sabe as tristes sombrasDe quanto amei n'este mundo,Que se elevam lacrimosasDe seu tumulo profundo,E vêm os psalmos da morteNo meu desterro entoar?São os sabiás que cantam.Não gostas de os escutar?Serás tu, minha saudade?Tu meu thezouro de amor?Tu que ás tormentas murchasteDa mocidade na flor?Serás tu? Vem, sê bem vinda,Quero-te ainda escutar!São os sabiás que cantamAntes da noite baixar.Mas ah! delirio insensato!Não és tu sombra adorada!Não ha canticos de anjinhos,Nem de phalange encantadaPassando sobre as campinasNas harpas a dedilhar!São os sabiás que cantamNas mangueiras do pomar!Fagundes Varella,Ibidem, p. 34.
Serão de mortos anjinhosO cantar de errantes almas?Dos coqueiros florescentesA brincar nas verdes palmas,Estas notas maviosasQue me fazem suspirar?
Serão de mortos anjinhos
O cantar de errantes almas?
Dos coqueiros florescentes
A brincar nas verdes palmas,
Estas notas maviosas
Que me fazem suspirar?
São os sabiás que cantamNas mangueiras do pomar.
São os sabiás que cantam
Nas mangueiras do pomar.
Serão os genios da tardeQue passam sobre as campinas,Cingindo o collo de opalas,E a cabeça de neblinas,E fogem, nas harpas de ouroMansamente a dedilhar?
Serão os genios da tarde
Que passam sobre as campinas,
Cingindo o collo de opalas,
E a cabeça de neblinas,
E fogem, nas harpas de ouro
Mansamente a dedilhar?
São os sabiás que cantam,Não vês o sol declinar.
São os sabiás que cantam,
Não vês o sol declinar.
Ou serão talvez as precesDe algum sonhador proscripto,Que vagueia nos desertos,Alma cheia do infinito,Pedindo a Deus um consoloQue o mundo não póde dar?
Ou serão talvez as preces
De algum sonhador proscripto,
Que vagueia nos desertos,
Alma cheia do infinito,
Pedindo a Deus um consolo
Que o mundo não póde dar?
São os sabiás que cantam.Como está sereno o mar!
São os sabiás que cantam.
Como está sereno o mar!
Ou quem sabe as tristes sombrasDe quanto amei n'este mundo,Que se elevam lacrimosasDe seu tumulo profundo,E vêm os psalmos da morteNo meu desterro entoar?
Ou quem sabe as tristes sombras
De quanto amei n'este mundo,
Que se elevam lacrimosas
De seu tumulo profundo,
E vêm os psalmos da morte
No meu desterro entoar?
São os sabiás que cantam.Não gostas de os escutar?
São os sabiás que cantam.
Não gostas de os escutar?
Serás tu, minha saudade?Tu meu thezouro de amor?Tu que ás tormentas murchasteDa mocidade na flor?Serás tu? Vem, sê bem vinda,Quero-te ainda escutar!
Serás tu, minha saudade?
Tu meu thezouro de amor?
Tu que ás tormentas murchaste
Da mocidade na flor?
Serás tu? Vem, sê bem vinda,
Quero-te ainda escutar!
São os sabiás que cantamAntes da noite baixar.
São os sabiás que cantam
Antes da noite baixar.
Mas ah! delirio insensato!Não és tu sombra adorada!Não ha canticos de anjinhos,Nem de phalange encantadaPassando sobre as campinasNas harpas a dedilhar!
Mas ah! delirio insensato!
Não és tu sombra adorada!
Não ha canticos de anjinhos,
Nem de phalange encantada
Passando sobre as campinas
Nas harpas a dedilhar!
São os sabiás que cantamNas mangueiras do pomar!
São os sabiás que cantam
Nas mangueiras do pomar!
Fagundes Varella,Ibidem, p. 34.
Fagundes Varella,Ibidem, p. 34.
A vez primeira que eu fitei Thereza,Como as plantas que arrasta a correnteza,A walsa nos levou nos giros seus...E amámos juntos... E depois na salaAdeus!—eu disse-lhe, a tremer co'a falla...Ella, córando, murmurou-me:—Adeus!Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...E da alcôva sahia um cavalleiroInda beijando uma mulher sem véos...Era eu... Era a pallida Thereza!Adeus!—lhe disse, conservando-a preza...E ella entre beijos murmurou-me:—Adeus!Passaram tempos... sec'los de delirio,Prazeres divinaes... gozos do empyreo...Mas, um dia volvi aos lares meus,Partindo eu disse: Voltarei, descança!...Ella chorando mais que uma criança,Ella em soluços murmurou-me:—Adeus!Quando voltei, era o palacio em festa!...E a voz d'ella e de um homem lá na orchestraPreenchiam de amor o azul dos céos.Entrei... Ella me olhou branca, surpreza!Foi a ultima vez que eu vi Thereza!...E ella arquejando murmurou-me:—Adeus!Castro Alves,Poesias, p. 47. Bahia, 1870.
A vez primeira que eu fitei Thereza,Como as plantas que arrasta a correnteza,A walsa nos levou nos giros seus...E amámos juntos... E depois na salaAdeus!—eu disse-lhe, a tremer co'a falla...Ella, córando, murmurou-me:—Adeus!Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...E da alcôva sahia um cavalleiroInda beijando uma mulher sem véos...Era eu... Era a pallida Thereza!Adeus!—lhe disse, conservando-a preza...E ella entre beijos murmurou-me:—Adeus!Passaram tempos... sec'los de delirio,Prazeres divinaes... gozos do empyreo...Mas, um dia volvi aos lares meus,Partindo eu disse: Voltarei, descança!...Ella chorando mais que uma criança,Ella em soluços murmurou-me:—Adeus!Quando voltei, era o palacio em festa!...E a voz d'ella e de um homem lá na orchestraPreenchiam de amor o azul dos céos.Entrei... Ella me olhou branca, surpreza!Foi a ultima vez que eu vi Thereza!...E ella arquejando murmurou-me:—Adeus!Castro Alves,Poesias, p. 47. Bahia, 1870.
A vez primeira que eu fitei Thereza,Como as plantas que arrasta a correnteza,A walsa nos levou nos giros seus...E amámos juntos... E depois na salaAdeus!—eu disse-lhe, a tremer co'a falla...
A vez primeira que eu fitei Thereza,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A walsa nos levou nos giros seus...
E amámos juntos... E depois na sala
Adeus!—eu disse-lhe, a tremer co'a falla...
Ella, córando, murmurou-me:—Adeus!
Ella, córando, murmurou-me:—Adeus!
Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...E da alcôva sahia um cavalleiroInda beijando uma mulher sem véos...Era eu... Era a pallida Thereza!Adeus!—lhe disse, conservando-a preza...
Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...
E da alcôva sahia um cavalleiro
Inda beijando uma mulher sem véos...
Era eu... Era a pallida Thereza!
Adeus!—lhe disse, conservando-a preza...
E ella entre beijos murmurou-me:—Adeus!
E ella entre beijos murmurou-me:—Adeus!
Passaram tempos... sec'los de delirio,Prazeres divinaes... gozos do empyreo...Mas, um dia volvi aos lares meus,Partindo eu disse: Voltarei, descança!...Ella chorando mais que uma criança,
Passaram tempos... sec'los de delirio,
Prazeres divinaes... gozos do empyreo...
Mas, um dia volvi aos lares meus,
Partindo eu disse: Voltarei, descança!...
Ella chorando mais que uma criança,
Ella em soluços murmurou-me:—Adeus!
Ella em soluços murmurou-me:—Adeus!
Quando voltei, era o palacio em festa!...E a voz d'ella e de um homem lá na orchestraPreenchiam de amor o azul dos céos.Entrei... Ella me olhou branca, surpreza!Foi a ultima vez que eu vi Thereza!...
Quando voltei, era o palacio em festa!...
E a voz d'ella e de um homem lá na orchestra
Preenchiam de amor o azul dos céos.
Entrei... Ella me olhou branca, surpreza!
Foi a ultima vez que eu vi Thereza!...
E ella arquejando murmurou-me:—Adeus!
E ella arquejando murmurou-me:—Adeus!
Castro Alves,Poesias, p. 47. Bahia, 1870.
Castro Alves,Poesias, p. 47. Bahia, 1870.
Resvala em fogo o sol dos montes sobre a espaldaE lustra o dorso nú da india americana...Na selva zumbe emtanto o insecto de esmeralda,E pousa o colibri nas flores da liana.Ali, a luz cruel, a calmaria intensa!Aqui, a sombra, a paz, os ventos, a cascata...E a pluma dos bambús a tremular immensa...E o canto de aves mil, e a solidão, e a mata...É a hora em que, fugindo aos raios da esplanada,A Indigena, a gentil matrona do deserto,Amarra aos palmeiraes a rêde mosqueada,Que, leve como um berço, embala o vento incerto...Então ella abandona-lhe ao beijo apaixonadoA perna a mais formosa, o corpo o mais macio,E, as palpebras cerrando, ao filho bronzeadoEntrega um seio nú, moreno, luzidio.Porém d'entre os espatos esguios do coqueiroDo verde gravatá nos caxos reluzentes,Enrosca-se e desliza um corpo sorrateiroE desce devagar pelos cipós pendentes.E desce... e desce mais... á rêde já se chega...Da india nos cabellos a longa cauda sóme...Horror!... aquelle horror ao peito eis que se apega!A baba quer o leite! A chaga, sente fóme!O veneno quer mel! A escama quer a pelle!Quer o almiscar perfume! O immundo quer o bello!A lingua do reptil—lambendo o seio imbelle!...Uma cobra por filho... Horrivel pesadello!...
Resvala em fogo o sol dos montes sobre a espaldaE lustra o dorso nú da india americana...Na selva zumbe emtanto o insecto de esmeralda,E pousa o colibri nas flores da liana.Ali, a luz cruel, a calmaria intensa!Aqui, a sombra, a paz, os ventos, a cascata...E a pluma dos bambús a tremular immensa...E o canto de aves mil, e a solidão, e a mata...É a hora em que, fugindo aos raios da esplanada,A Indigena, a gentil matrona do deserto,Amarra aos palmeiraes a rêde mosqueada,Que, leve como um berço, embala o vento incerto...Então ella abandona-lhe ao beijo apaixonadoA perna a mais formosa, o corpo o mais macio,E, as palpebras cerrando, ao filho bronzeadoEntrega um seio nú, moreno, luzidio.Porém d'entre os espatos esguios do coqueiroDo verde gravatá nos caxos reluzentes,Enrosca-se e desliza um corpo sorrateiroE desce devagar pelos cipós pendentes.E desce... e desce mais... á rêde já se chega...Da india nos cabellos a longa cauda sóme...Horror!... aquelle horror ao peito eis que se apega!A baba quer o leite! A chaga, sente fóme!O veneno quer mel! A escama quer a pelle!Quer o almiscar perfume! O immundo quer o bello!A lingua do reptil—lambendo o seio imbelle!...Uma cobra por filho... Horrivel pesadello!...
Resvala em fogo o sol dos montes sobre a espaldaE lustra o dorso nú da india americana...Na selva zumbe emtanto o insecto de esmeralda,E pousa o colibri nas flores da liana.
Resvala em fogo o sol dos montes sobre a espalda
E lustra o dorso nú da india americana...
Na selva zumbe emtanto o insecto de esmeralda,
E pousa o colibri nas flores da liana.
Ali, a luz cruel, a calmaria intensa!Aqui, a sombra, a paz, os ventos, a cascata...E a pluma dos bambús a tremular immensa...E o canto de aves mil, e a solidão, e a mata...
Ali, a luz cruel, a calmaria intensa!
Aqui, a sombra, a paz, os ventos, a cascata...
E a pluma dos bambús a tremular immensa...
E o canto de aves mil, e a solidão, e a mata...
É a hora em que, fugindo aos raios da esplanada,A Indigena, a gentil matrona do deserto,Amarra aos palmeiraes a rêde mosqueada,Que, leve como um berço, embala o vento incerto...
É a hora em que, fugindo aos raios da esplanada,
A Indigena, a gentil matrona do deserto,
Amarra aos palmeiraes a rêde mosqueada,
Que, leve como um berço, embala o vento incerto...
Então ella abandona-lhe ao beijo apaixonadoA perna a mais formosa, o corpo o mais macio,E, as palpebras cerrando, ao filho bronzeadoEntrega um seio nú, moreno, luzidio.
Então ella abandona-lhe ao beijo apaixonado
A perna a mais formosa, o corpo o mais macio,
E, as palpebras cerrando, ao filho bronzeado
Entrega um seio nú, moreno, luzidio.
Porém d'entre os espatos esguios do coqueiroDo verde gravatá nos caxos reluzentes,Enrosca-se e desliza um corpo sorrateiroE desce devagar pelos cipós pendentes.
Porém d'entre os espatos esguios do coqueiro
Do verde gravatá nos caxos reluzentes,
Enrosca-se e desliza um corpo sorrateiro
E desce devagar pelos cipós pendentes.
E desce... e desce mais... á rêde já se chega...Da india nos cabellos a longa cauda sóme...Horror!... aquelle horror ao peito eis que se apega!A baba quer o leite! A chaga, sente fóme!
E desce... e desce mais... á rêde já se chega...
Da india nos cabellos a longa cauda sóme...
Horror!... aquelle horror ao peito eis que se apega!
A baba quer o leite! A chaga, sente fóme!
O veneno quer mel! A escama quer a pelle!Quer o almiscar perfume! O immundo quer o bello!A lingua do reptil—lambendo o seio imbelle!...Uma cobra por filho... Horrivel pesadello!...
O veneno quer mel! A escama quer a pelle!
Quer o almiscar perfume! O immundo quer o bello!
A lingua do reptil—lambendo o seio imbelle!...
Uma cobra por filho... Horrivel pesadello!...
Assim, minh'alma, assim um dia adormecesteNa floresta ideial da ardente mocidade...Abria a phantasia a pétala celeste...Zumbia o sonho d'ouro em doce obscuridade...Assim, minh'alma, déste o seio (oh dor immensa!)Onde a paixão corria indómita, fremente!Assim bebeu-te a vida, a mocidade e a crençaNão bocca de mulher... mas de fatal serpente...Castro Alves,Ibid., p. 170.
Assim, minh'alma, assim um dia adormecesteNa floresta ideial da ardente mocidade...Abria a phantasia a pétala celeste...Zumbia o sonho d'ouro em doce obscuridade...Assim, minh'alma, déste o seio (oh dor immensa!)Onde a paixão corria indómita, fremente!Assim bebeu-te a vida, a mocidade e a crençaNão bocca de mulher... mas de fatal serpente...Castro Alves,Ibid., p. 170.
Assim, minh'alma, assim um dia adormecesteNa floresta ideial da ardente mocidade...Abria a phantasia a pétala celeste...Zumbia o sonho d'ouro em doce obscuridade...
Assim, minh'alma, assim um dia adormeceste
Na floresta ideial da ardente mocidade...
Abria a phantasia a pétala celeste...
Zumbia o sonho d'ouro em doce obscuridade...
Assim, minh'alma, déste o seio (oh dor immensa!)Onde a paixão corria indómita, fremente!Assim bebeu-te a vida, a mocidade e a crençaNão bocca de mulher... mas de fatal serpente...
Assim, minh'alma, déste o seio (oh dor immensa!)
Onde a paixão corria indómita, fremente!
Assim bebeu-te a vida, a mocidade e a crença
Não bocca de mulher... mas de fatal serpente...
Castro Alves,Ibid., p. 170.
Castro Alves,Ibid., p. 170.
Quando eu morrer... não lancem meu cadaverNo fosso de um sombrio cemiterio...Odeio o mausoléu que espera o mortoComo o viajante d'esse hotel funéreo.Corre nas veias negras d'esse marmoreNão sei que sangue vil de messalina;A cova, n'um bocejo indifferenteAbre ao primeiro a bocca libertina.Eil-a, a náo do sepulchro—o cemiterio...Que povo extranho no porão profundo!Emigrantes sombrios que se embarcamPara as plagas sem fim do outro mundo.Tem os fogos-errantes por santelmo,Tem por velâme os pannos do sudario...Por mastro o vulto esguio do cipreste,Por gaivotas—o mocho funerario...Ali ninguem se firma a um braço amígo,Do inverno pelas lugubres noitadas...No tombadilho indifferente chocam-se,E nas trevas esbarram-se as ossadas...Como deve custar ao pobre mortoVêr as plagas da vida além perdidas,Sem vêr o branco fumo de seus laresLevantar-se por entre as avenidas!Oh! perguntae aos frios esqueletosPorque não tem o coração no peito...E um d'elles vos dirá: Deixei-o á poucoDe minha amante no lascivo leito.Outro: Dei-o a meu pae. Outro: Esqueci-oNas innocentes mãos de meu filhinho...Meus amigos! Notae: bem como um passaroO coração do morto volta ao ninho.Castro Alves,Ibid., p. 187.
Quando eu morrer... não lancem meu cadaverNo fosso de um sombrio cemiterio...Odeio o mausoléu que espera o mortoComo o viajante d'esse hotel funéreo.Corre nas veias negras d'esse marmoreNão sei que sangue vil de messalina;A cova, n'um bocejo indifferenteAbre ao primeiro a bocca libertina.Eil-a, a náo do sepulchro—o cemiterio...Que povo extranho no porão profundo!Emigrantes sombrios que se embarcamPara as plagas sem fim do outro mundo.Tem os fogos-errantes por santelmo,Tem por velâme os pannos do sudario...Por mastro o vulto esguio do cipreste,Por gaivotas—o mocho funerario...Ali ninguem se firma a um braço amígo,Do inverno pelas lugubres noitadas...No tombadilho indifferente chocam-se,E nas trevas esbarram-se as ossadas...Como deve custar ao pobre mortoVêr as plagas da vida além perdidas,Sem vêr o branco fumo de seus laresLevantar-se por entre as avenidas!Oh! perguntae aos frios esqueletosPorque não tem o coração no peito...E um d'elles vos dirá: Deixei-o á poucoDe minha amante no lascivo leito.Outro: Dei-o a meu pae. Outro: Esqueci-oNas innocentes mãos de meu filhinho...Meus amigos! Notae: bem como um passaroO coração do morto volta ao ninho.Castro Alves,Ibid., p. 187.
Quando eu morrer... não lancem meu cadaverNo fosso de um sombrio cemiterio...Odeio o mausoléu que espera o mortoComo o viajante d'esse hotel funéreo.
Quando eu morrer... não lancem meu cadaver
No fosso de um sombrio cemiterio...
Odeio o mausoléu que espera o morto
Como o viajante d'esse hotel funéreo.
Corre nas veias negras d'esse marmoreNão sei que sangue vil de messalina;A cova, n'um bocejo indifferenteAbre ao primeiro a bocca libertina.
Corre nas veias negras d'esse marmore
Não sei que sangue vil de messalina;
A cova, n'um bocejo indifferente
Abre ao primeiro a bocca libertina.
Eil-a, a náo do sepulchro—o cemiterio...Que povo extranho no porão profundo!Emigrantes sombrios que se embarcamPara as plagas sem fim do outro mundo.
Eil-a, a náo do sepulchro—o cemiterio...
Que povo extranho no porão profundo!
Emigrantes sombrios que se embarcam
Para as plagas sem fim do outro mundo.
Tem os fogos-errantes por santelmo,Tem por velâme os pannos do sudario...Por mastro o vulto esguio do cipreste,Por gaivotas—o mocho funerario...
Tem os fogos-errantes por santelmo,
Tem por velâme os pannos do sudario...
Por mastro o vulto esguio do cipreste,
Por gaivotas—o mocho funerario...
Ali ninguem se firma a um braço amígo,Do inverno pelas lugubres noitadas...No tombadilho indifferente chocam-se,E nas trevas esbarram-se as ossadas...
Ali ninguem se firma a um braço amígo,
Do inverno pelas lugubres noitadas...
No tombadilho indifferente chocam-se,
E nas trevas esbarram-se as ossadas...
Como deve custar ao pobre mortoVêr as plagas da vida além perdidas,Sem vêr o branco fumo de seus laresLevantar-se por entre as avenidas!
Como deve custar ao pobre morto
Vêr as plagas da vida além perdidas,
Sem vêr o branco fumo de seus lares
Levantar-se por entre as avenidas!
Oh! perguntae aos frios esqueletosPorque não tem o coração no peito...E um d'elles vos dirá: Deixei-o á poucoDe minha amante no lascivo leito.
Oh! perguntae aos frios esqueletos
Porque não tem o coração no peito...
E um d'elles vos dirá: Deixei-o á pouco
De minha amante no lascivo leito.
Outro: Dei-o a meu pae. Outro: Esqueci-oNas innocentes mãos de meu filhinho...Meus amigos! Notae: bem como um passaroO coração do morto volta ao ninho.
Outro: Dei-o a meu pae. Outro: Esqueci-o
Nas innocentes mãos de meu filhinho...
Meus amigos! Notae: bem como um passaro
O coração do morto volta ao ninho.
Castro Alves,Ibid., p. 187.
Castro Alves,Ibid., p. 187.
O perfume é o invólucro invisivelQue encerra as fórmas da mulher bonita,Bem como a salamandra em chammas vive,Entre perfumes a sultana habita.Escrinio avelludado onde se guardaCollar de pedras—a belleza esquiva,Especie de crysálida, onde móraA borboleta dos salões, a diva.Alma das flores—quando as flores morrem,Os perfumes emigram para as bellas,Trocam labios de virgens por boninas,Trocam lirios por seios de donzellas.Ali—sylphos travessos, traiçoeirosVôam cantando em languido compasso,Occultos n'esses cálices maciosDas covinhas de um rosto ou d'um regaço.Vós, que não entendeis a lenda occulta,A linguagem mimosa dos aromas,De Magdalena a urna olhaes apenasComo um primor de orientaes redomas.E não vêdes, que ali na myrra e nardoVae toda a crença da judia loura...E que o oleo que lava os pés de ChristoÉ uma resa tambem da peccadora.Por mim eu sei que ha confidencias ternas,Um poema saudoso, angustiado,Se uma rosa de ha muito emmurchecidaRóla acaso de um livro abandonado.O espirito talvez dos tempos idosDesperta ali como invisivel nume...E o poeta murmura suspirando:Bem me lembro... era este o seu perfume!E que segredo não revela acasoDe uma mulher a predilecta essencia?Ora o cheiro é lascivo e provocante!Ora casto, infantil, como a innocencia!Ora propala os sensuaes anceiosD'alcôva de Ninon ou Margarida,Ora o mysterio divinal do leitoOnde sonha Cecilia adormecida.Aqui, na magnólia de CelutaLambe a solta madeixa que se estira;Unge o bronze do dorso da cabôcla,E o marmore do corpo da Hetaíra.É que o perfume denuncia o espiritoQue sob as fórmas feminis palpita...Pois como a salamandra em chammas vive,Entre perfumes a mulher habita.Castro Alves,Ibid., p. 167.
O perfume é o invólucro invisivelQue encerra as fórmas da mulher bonita,Bem como a salamandra em chammas vive,Entre perfumes a sultana habita.Escrinio avelludado onde se guardaCollar de pedras—a belleza esquiva,Especie de crysálida, onde móraA borboleta dos salões, a diva.Alma das flores—quando as flores morrem,Os perfumes emigram para as bellas,Trocam labios de virgens por boninas,Trocam lirios por seios de donzellas.Ali—sylphos travessos, traiçoeirosVôam cantando em languido compasso,Occultos n'esses cálices maciosDas covinhas de um rosto ou d'um regaço.Vós, que não entendeis a lenda occulta,A linguagem mimosa dos aromas,De Magdalena a urna olhaes apenasComo um primor de orientaes redomas.E não vêdes, que ali na myrra e nardoVae toda a crença da judia loura...E que o oleo que lava os pés de ChristoÉ uma resa tambem da peccadora.Por mim eu sei que ha confidencias ternas,Um poema saudoso, angustiado,Se uma rosa de ha muito emmurchecidaRóla acaso de um livro abandonado.O espirito talvez dos tempos idosDesperta ali como invisivel nume...E o poeta murmura suspirando:Bem me lembro... era este o seu perfume!E que segredo não revela acasoDe uma mulher a predilecta essencia?Ora o cheiro é lascivo e provocante!Ora casto, infantil, como a innocencia!Ora propala os sensuaes anceiosD'alcôva de Ninon ou Margarida,Ora o mysterio divinal do leitoOnde sonha Cecilia adormecida.Aqui, na magnólia de CelutaLambe a solta madeixa que se estira;Unge o bronze do dorso da cabôcla,E o marmore do corpo da Hetaíra.É que o perfume denuncia o espiritoQue sob as fórmas feminis palpita...Pois como a salamandra em chammas vive,Entre perfumes a mulher habita.Castro Alves,Ibid., p. 167.
O perfume é o invólucro invisivelQue encerra as fórmas da mulher bonita,Bem como a salamandra em chammas vive,Entre perfumes a sultana habita.
O perfume é o invólucro invisivel
Que encerra as fórmas da mulher bonita,
Bem como a salamandra em chammas vive,
Entre perfumes a sultana habita.
Escrinio avelludado onde se guardaCollar de pedras—a belleza esquiva,Especie de crysálida, onde móraA borboleta dos salões, a diva.
Escrinio avelludado onde se guarda
Collar de pedras—a belleza esquiva,
Especie de crysálida, onde móra
A borboleta dos salões, a diva.
Alma das flores—quando as flores morrem,Os perfumes emigram para as bellas,Trocam labios de virgens por boninas,Trocam lirios por seios de donzellas.
Alma das flores—quando as flores morrem,
Os perfumes emigram para as bellas,
Trocam labios de virgens por boninas,
Trocam lirios por seios de donzellas.
Ali—sylphos travessos, traiçoeirosVôam cantando em languido compasso,Occultos n'esses cálices maciosDas covinhas de um rosto ou d'um regaço.
Ali—sylphos travessos, traiçoeiros
Vôam cantando em languido compasso,
Occultos n'esses cálices macios
Das covinhas de um rosto ou d'um regaço.
Vós, que não entendeis a lenda occulta,A linguagem mimosa dos aromas,De Magdalena a urna olhaes apenasComo um primor de orientaes redomas.
Vós, que não entendeis a lenda occulta,
A linguagem mimosa dos aromas,
De Magdalena a urna olhaes apenas
Como um primor de orientaes redomas.
E não vêdes, que ali na myrra e nardoVae toda a crença da judia loura...E que o oleo que lava os pés de ChristoÉ uma resa tambem da peccadora.
E não vêdes, que ali na myrra e nardo
Vae toda a crença da judia loura...
E que o oleo que lava os pés de Christo
É uma resa tambem da peccadora.
Por mim eu sei que ha confidencias ternas,Um poema saudoso, angustiado,Se uma rosa de ha muito emmurchecidaRóla acaso de um livro abandonado.
Por mim eu sei que ha confidencias ternas,
Um poema saudoso, angustiado,
Se uma rosa de ha muito emmurchecida
Róla acaso de um livro abandonado.
O espirito talvez dos tempos idosDesperta ali como invisivel nume...E o poeta murmura suspirando:Bem me lembro... era este o seu perfume!
O espirito talvez dos tempos idos
Desperta ali como invisivel nume...
E o poeta murmura suspirando:
Bem me lembro... era este o seu perfume!
E que segredo não revela acasoDe uma mulher a predilecta essencia?Ora o cheiro é lascivo e provocante!Ora casto, infantil, como a innocencia!
E que segredo não revela acaso
De uma mulher a predilecta essencia?
Ora o cheiro é lascivo e provocante!
Ora casto, infantil, como a innocencia!
Ora propala os sensuaes anceiosD'alcôva de Ninon ou Margarida,Ora o mysterio divinal do leitoOnde sonha Cecilia adormecida.
Ora propala os sensuaes anceios
D'alcôva de Ninon ou Margarida,
Ora o mysterio divinal do leito
Onde sonha Cecilia adormecida.
Aqui, na magnólia de CelutaLambe a solta madeixa que se estira;Unge o bronze do dorso da cabôcla,E o marmore do corpo da Hetaíra.
Aqui, na magnólia de Celuta
Lambe a solta madeixa que se estira;
Unge o bronze do dorso da cabôcla,
E o marmore do corpo da Hetaíra.
É que o perfume denuncia o espiritoQue sob as fórmas feminis palpita...Pois como a salamandra em chammas vive,Entre perfumes a mulher habita.
É que o perfume denuncia o espirito
Que sob as fórmas feminis palpita...
Pois como a salamandra em chammas vive,
Entre perfumes a mulher habita.
Castro Alves,Ibid., p. 167.
Castro Alves,Ibid., p. 167.
É a hora do crepusculo,Que viração tão grata!Geme o riacho quérulo,Nem um cantor na mata.Desce a ladeira ingremeUm touro de repente,E vae nas frescas aguasFartar a sêde ardente.Os juncos tremem, subitoSôa, medonho ronco,E o jaguar precípitePula de traz de um tronco.Debalde o touro curva-se,Recúa, dá um salto,E o jaguar mais flacidoSabe pular mais alto.O touro parte célereSoltando um grito horrendo!Sobre elle a féra escancha-se,Tambem lá vae correndo.Vôam por esses páramos,O touro em grandes brados;Soltar querem das órbitasOs olhos inflammados.Espuma, arqueja! a linguaDa bocca vae pendente!Garras e dentes crava-lheA fera impaciente.Largo rastilho rubidoEmbebe-se na areia,O sangue jorra calidoDa lacerada veia.Contrae-se a forte victimaLuctando com braveza!Porém o algoz impavidoLá vae... não deixa a prêza!Correram mais! que insania!Que scena pavorosa,Passada no silencioDa selva escura, umbrosa.Emfim n'um precipicioOs dois vão baquear...Cahiram lá exânimesO touro e o jaguar.Joaquim Serra,Quadros, pag. 45. Rio de Janeiro, 1873.
É a hora do crepusculo,Que viração tão grata!Geme o riacho quérulo,Nem um cantor na mata.Desce a ladeira ingremeUm touro de repente,E vae nas frescas aguasFartar a sêde ardente.Os juncos tremem, subitoSôa, medonho ronco,E o jaguar precípitePula de traz de um tronco.Debalde o touro curva-se,Recúa, dá um salto,E o jaguar mais flacidoSabe pular mais alto.O touro parte célereSoltando um grito horrendo!Sobre elle a féra escancha-se,Tambem lá vae correndo.Vôam por esses páramos,O touro em grandes brados;Soltar querem das órbitasOs olhos inflammados.Espuma, arqueja! a linguaDa bocca vae pendente!Garras e dentes crava-lheA fera impaciente.Largo rastilho rubidoEmbebe-se na areia,O sangue jorra calidoDa lacerada veia.Contrae-se a forte victimaLuctando com braveza!Porém o algoz impavidoLá vae... não deixa a prêza!Correram mais! que insania!Que scena pavorosa,Passada no silencioDa selva escura, umbrosa.Emfim n'um precipicioOs dois vão baquear...Cahiram lá exânimesO touro e o jaguar.Joaquim Serra,Quadros, pag. 45. Rio de Janeiro, 1873.
É a hora do crepusculo,Que viração tão grata!Geme o riacho quérulo,Nem um cantor na mata.
É a hora do crepusculo,
Que viração tão grata!
Geme o riacho quérulo,
Nem um cantor na mata.
Desce a ladeira ingremeUm touro de repente,E vae nas frescas aguasFartar a sêde ardente.
Desce a ladeira ingreme
Um touro de repente,
E vae nas frescas aguas
Fartar a sêde ardente.
Os juncos tremem, subitoSôa, medonho ronco,E o jaguar precípitePula de traz de um tronco.
Os juncos tremem, subito
Sôa, medonho ronco,
E o jaguar precípite
Pula de traz de um tronco.
Debalde o touro curva-se,Recúa, dá um salto,E o jaguar mais flacidoSabe pular mais alto.
Debalde o touro curva-se,
Recúa, dá um salto,
E o jaguar mais flacido
Sabe pular mais alto.
O touro parte célereSoltando um grito horrendo!Sobre elle a féra escancha-se,Tambem lá vae correndo.
O touro parte célere
Soltando um grito horrendo!
Sobre elle a féra escancha-se,
Tambem lá vae correndo.
Vôam por esses páramos,O touro em grandes brados;Soltar querem das órbitasOs olhos inflammados.
Vôam por esses páramos,
O touro em grandes brados;
Soltar querem das órbitas
Os olhos inflammados.
Espuma, arqueja! a linguaDa bocca vae pendente!Garras e dentes crava-lheA fera impaciente.
Espuma, arqueja! a lingua
Da bocca vae pendente!
Garras e dentes crava-lhe
A fera impaciente.
Largo rastilho rubidoEmbebe-se na areia,O sangue jorra calidoDa lacerada veia.
Largo rastilho rubido
Embebe-se na areia,
O sangue jorra calido
Da lacerada veia.
Contrae-se a forte victimaLuctando com braveza!Porém o algoz impavidoLá vae... não deixa a prêza!
Contrae-se a forte victima
Luctando com braveza!
Porém o algoz impavido
Lá vae... não deixa a prêza!
Correram mais! que insania!Que scena pavorosa,Passada no silencioDa selva escura, umbrosa.
Correram mais! que insania!
Que scena pavorosa,
Passada no silencio
Da selva escura, umbrosa.
Emfim n'um precipicioOs dois vão baquear...Cahiram lá exânimesO touro e o jaguar.
Emfim n'um precipicio
Os dois vão baquear...
Cahiram lá exânimes
O touro e o jaguar.
Joaquim Serra,Quadros, pag. 45. Rio de Janeiro, 1873.
Joaquim Serra,Quadros, pag. 45. Rio de Janeiro, 1873.
Alva, mais alva do que o branco cysne,Que alem mergulha e a pennugem lava;Alva como um vestido de noivado,Mais alva, inda mais alva!Loura, mais loura do que a nuvem lindaQue o sol á tarde no poente doura:Loura como a virgem ossianesca,Mais loura, inda mais loura!Bella, mais bella que o raiar da auroraApoz noite hybernal, negra procella;Bella como a açucena rociada,Mais bella, inda mais bella!Doce, mais doce, que o gemer da brisa;Como se d'este mundo ella não fosse...Doce como os cantares dos archanjos,Mais doce, inda mais doce!Casta, mais casta, que a mimosa folhaQue se constringe, que da mão se afasta,Assim como a Madona immaculadaElla era assim tão casta!...Joaquim Serra,Ib., p. 121.
Alva, mais alva do que o branco cysne,Que alem mergulha e a pennugem lava;Alva como um vestido de noivado,Mais alva, inda mais alva!Loura, mais loura do que a nuvem lindaQue o sol á tarde no poente doura:Loura como a virgem ossianesca,Mais loura, inda mais loura!Bella, mais bella que o raiar da auroraApoz noite hybernal, negra procella;Bella como a açucena rociada,Mais bella, inda mais bella!Doce, mais doce, que o gemer da brisa;Como se d'este mundo ella não fosse...Doce como os cantares dos archanjos,Mais doce, inda mais doce!Casta, mais casta, que a mimosa folhaQue se constringe, que da mão se afasta,Assim como a Madona immaculadaElla era assim tão casta!...Joaquim Serra,Ib., p. 121.
Alva, mais alva do que o branco cysne,Que alem mergulha e a pennugem lava;Alva como um vestido de noivado,Mais alva, inda mais alva!
Alva, mais alva do que o branco cysne,
Que alem mergulha e a pennugem lava;
Alva como um vestido de noivado,
Mais alva, inda mais alva!
Loura, mais loura do que a nuvem lindaQue o sol á tarde no poente doura:Loura como a virgem ossianesca,Mais loura, inda mais loura!
Loura, mais loura do que a nuvem linda
Que o sol á tarde no poente doura:
Loura como a virgem ossianesca,
Mais loura, inda mais loura!
Bella, mais bella que o raiar da auroraApoz noite hybernal, negra procella;Bella como a açucena rociada,Mais bella, inda mais bella!
Bella, mais bella que o raiar da aurora
Apoz noite hybernal, negra procella;
Bella como a açucena rociada,
Mais bella, inda mais bella!
Doce, mais doce, que o gemer da brisa;Como se d'este mundo ella não fosse...Doce como os cantares dos archanjos,Mais doce, inda mais doce!
Doce, mais doce, que o gemer da brisa;
Como se d'este mundo ella não fosse...
Doce como os cantares dos archanjos,
Mais doce, inda mais doce!
Casta, mais casta, que a mimosa folhaQue se constringe, que da mão se afasta,Assim como a Madona immaculadaElla era assim tão casta!...
Casta, mais casta, que a mimosa folha
Que se constringe, que da mão se afasta,
Assim como a Madona immaculada
Ella era assim tão casta!...
Joaquim Serra,Ib., p. 121.
Joaquim Serra,Ib., p. 121.
Eu vejo-as abraçadas,Ambas em luto envoltas,Co' as loiras tranças soltas,Cobrindo os hombros nús;A desprender gemidosDos seios palpitantes,E os olhos supplicantesFitos na mesma cruz.E pende-lhes dos pulsosA mesma atroz cadeia,Seus labios incendeiaA mesma imprecação:«Infamia eterna! (exclamam)Aos nossos oppressores!Senhor! vêde os horroresDa nossa escravidão!»—Mas quem sois vós, augustasImagens do martyrio?Que assustador delirioVos tem curvado assim?Em vossos rostos leioA dor, a magoa, a insonia:«Eu chamo-me—Polonia.—E eu sou a pobre Erin...»A. de Sousa Pinto,Ideias e Sonhos, p. 11. Lisboa, 1872.
Eu vejo-as abraçadas,Ambas em luto envoltas,Co' as loiras tranças soltas,Cobrindo os hombros nús;A desprender gemidosDos seios palpitantes,E os olhos supplicantesFitos na mesma cruz.E pende-lhes dos pulsosA mesma atroz cadeia,Seus labios incendeiaA mesma imprecação:«Infamia eterna! (exclamam)Aos nossos oppressores!Senhor! vêde os horroresDa nossa escravidão!»—Mas quem sois vós, augustasImagens do martyrio?Que assustador delirioVos tem curvado assim?Em vossos rostos leioA dor, a magoa, a insonia:«Eu chamo-me—Polonia.—E eu sou a pobre Erin...»A. de Sousa Pinto,Ideias e Sonhos, p. 11. Lisboa, 1872.
Eu vejo-as abraçadas,Ambas em luto envoltas,Co' as loiras tranças soltas,Cobrindo os hombros nús;A desprender gemidosDos seios palpitantes,E os olhos supplicantesFitos na mesma cruz.
Eu vejo-as abraçadas,
Ambas em luto envoltas,
Co' as loiras tranças soltas,
Cobrindo os hombros nús;
A desprender gemidos
Dos seios palpitantes,
E os olhos supplicantes
Fitos na mesma cruz.
E pende-lhes dos pulsosA mesma atroz cadeia,Seus labios incendeiaA mesma imprecação:«Infamia eterna! (exclamam)Aos nossos oppressores!Senhor! vêde os horroresDa nossa escravidão!»
E pende-lhes dos pulsos
A mesma atroz cadeia,
Seus labios incendeia
A mesma imprecação:
«Infamia eterna! (exclamam)
Aos nossos oppressores!
Senhor! vêde os horrores
Da nossa escravidão!»
—Mas quem sois vós, augustasImagens do martyrio?Que assustador delirioVos tem curvado assim?Em vossos rostos leioA dor, a magoa, a insonia:«Eu chamo-me—Polonia.—E eu sou a pobre Erin...»
—Mas quem sois vós, augustas
Imagens do martyrio?
Que assustador delirio
Vos tem curvado assim?
Em vossos rostos leio
A dor, a magoa, a insonia:
«Eu chamo-me—Polonia.
—E eu sou a pobre Erin...»
A. de Sousa Pinto,Ideias e Sonhos, p. 11. Lisboa, 1872.
A. de Sousa Pinto,Ideias e Sonhos, p. 11. Lisboa, 1872.
Aqui n'este arvoredo,Das sombras no segredo,Oh, vem!Por estes arredoresO bosque outros melhoresNão tem.O ruivo sol da tardeJá nas montanhas arde,D'além!A lua alvinitente,Nas portas do orienteLá vem.A viração fagueiraA rapida carreiraDetem,E dorme preguiçosaNo calix da mimosaCecem.Ninguem na sombra escuraVerá nossa ventura,Ninguem!Sómente os passarinhosOccultos nos seus ninhosNos vêm.Do bosque entre os verdoresSe occupam só de amores,Tambem!E a lua, que desponta,Jámais segredos contaDe alguem.Debaixo do arvoredo,Na gramma do vargedoOh, vem,Á sombra d'este abrigoFallar a sós commigo,Meu bem.Bernardo Guimarães,Novas Poesiasp. 143. Rio de Janeiro, 1876.
Aqui n'este arvoredo,Das sombras no segredo,Oh, vem!Por estes arredoresO bosque outros melhoresNão tem.O ruivo sol da tardeJá nas montanhas arde,D'além!A lua alvinitente,Nas portas do orienteLá vem.A viração fagueiraA rapida carreiraDetem,E dorme preguiçosaNo calix da mimosaCecem.Ninguem na sombra escuraVerá nossa ventura,Ninguem!Sómente os passarinhosOccultos nos seus ninhosNos vêm.Do bosque entre os verdoresSe occupam só de amores,Tambem!E a lua, que desponta,Jámais segredos contaDe alguem.Debaixo do arvoredo,Na gramma do vargedoOh, vem,Á sombra d'este abrigoFallar a sós commigo,Meu bem.Bernardo Guimarães,Novas Poesiasp. 143. Rio de Janeiro, 1876.
Aqui n'este arvoredo,Das sombras no segredo,Oh, vem!Por estes arredoresO bosque outros melhoresNão tem.
Aqui n'este arvoredo,
Das sombras no segredo,
Oh, vem!
Por estes arredores
O bosque outros melhores
Não tem.
O ruivo sol da tardeJá nas montanhas arde,D'além!A lua alvinitente,Nas portas do orienteLá vem.
O ruivo sol da tarde
Já nas montanhas arde,
D'além!
A lua alvinitente,
Nas portas do oriente
Lá vem.
A viração fagueiraA rapida carreiraDetem,E dorme preguiçosaNo calix da mimosaCecem.
A viração fagueira
A rapida carreira
Detem,
E dorme preguiçosa
No calix da mimosa
Cecem.
Ninguem na sombra escuraVerá nossa ventura,Ninguem!Sómente os passarinhosOccultos nos seus ninhosNos vêm.
Ninguem na sombra escura
Verá nossa ventura,
Ninguem!
Sómente os passarinhos
Occultos nos seus ninhos
Nos vêm.
Do bosque entre os verdoresSe occupam só de amores,Tambem!E a lua, que desponta,Jámais segredos contaDe alguem.
Do bosque entre os verdores
Se occupam só de amores,
Tambem!
E a lua, que desponta,
Jámais segredos conta
De alguem.
Debaixo do arvoredo,Na gramma do vargedoOh, vem,Á sombra d'este abrigoFallar a sós commigo,Meu bem.
Debaixo do arvoredo,
Na gramma do vargedo
Oh, vem,
Á sombra d'este abrigo
Fallar a sós commigo,
Meu bem.
Bernardo Guimarães,Novas Poesiasp. 143. Rio de Janeiro, 1876.
Bernardo Guimarães,Novas Poesiasp. 143. Rio de Janeiro, 1876.
Quando ella falla, pareceQue a voz da brisa se cala;Talvez um anjo emudeceQuando ella falla!Meu coração doloridoAs suas maguas exhala,E volta ao gozo perdidoQuando ella falla.Pudesse eu eternamenteAo lado d'ella escutal-a,Ouvir sua alma innocenteQuando ella falla.Minha alma já semi-morta,Conseguira ao céo alçal-a,Porque o céo abre uma portaQuando ella falla.Machado Assis,Phalenasp. 29.
Quando ella falla, pareceQue a voz da brisa se cala;Talvez um anjo emudeceQuando ella falla!Meu coração doloridoAs suas maguas exhala,E volta ao gozo perdidoQuando ella falla.Pudesse eu eternamenteAo lado d'ella escutal-a,Ouvir sua alma innocenteQuando ella falla.Minha alma já semi-morta,Conseguira ao céo alçal-a,Porque o céo abre uma portaQuando ella falla.Machado Assis,Phalenasp. 29.
Quando ella falla, pareceQue a voz da brisa se cala;Talvez um anjo emudeceQuando ella falla!
Quando ella falla, parece
Que a voz da brisa se cala;
Talvez um anjo emudece
Quando ella falla!
Meu coração doloridoAs suas maguas exhala,E volta ao gozo perdidoQuando ella falla.
Meu coração dolorido
As suas maguas exhala,
E volta ao gozo perdido
Quando ella falla.
Pudesse eu eternamenteAo lado d'ella escutal-a,Ouvir sua alma innocenteQuando ella falla.
Pudesse eu eternamente
Ao lado d'ella escutal-a,
Ouvir sua alma innocente
Quando ella falla.
Minha alma já semi-morta,Conseguira ao céo alçal-a,Porque o céo abre uma portaQuando ella falla.
Minha alma já semi-morta,
Conseguira ao céo alçal-a,
Porque o céo abre uma porta
Quando ella falla.
Machado Assis,Phalenasp. 29.
Machado Assis,Phalenasp. 29.
(De Tan-Jo-Lu)
Na perfumada alcova a esposa estava,Noiva ainda na vespera. FaziaCalor intenso; a pobre moça ardia,Com fino leque as faces refrescava.Ora, no leque em boa lettra feitoHavia este conceito:«Quando, immovel o vento e o ár pesado,Arder o intenso estio,Serei por mão amiga ambicionado;Mas volte o tempo frio,Ver-me-heis a um canto logo abandonado.»Lê a esposa este aviso, e o pensamentoVolve ao joven marido:«Arde-lhe o coração n'este momento(Diz ella) e vem buscar enternecidoBrandas auras de amor. Quando mais tardeTornar-se em cinza friaO fogo que hoje lhe arde,Talvez me esqueça e me desdenhe um dia.»Machado Assis,Phalenas, p. 121.
Na perfumada alcova a esposa estava,Noiva ainda na vespera. FaziaCalor intenso; a pobre moça ardia,Com fino leque as faces refrescava.Ora, no leque em boa lettra feitoHavia este conceito:«Quando, immovel o vento e o ár pesado,Arder o intenso estio,Serei por mão amiga ambicionado;Mas volte o tempo frio,Ver-me-heis a um canto logo abandonado.»Lê a esposa este aviso, e o pensamentoVolve ao joven marido:«Arde-lhe o coração n'este momento(Diz ella) e vem buscar enternecidoBrandas auras de amor. Quando mais tardeTornar-se em cinza friaO fogo que hoje lhe arde,Talvez me esqueça e me desdenhe um dia.»Machado Assis,Phalenas, p. 121.
Na perfumada alcova a esposa estava,Noiva ainda na vespera. FaziaCalor intenso; a pobre moça ardia,Com fino leque as faces refrescava.Ora, no leque em boa lettra feitoHavia este conceito:
Na perfumada alcova a esposa estava,
Noiva ainda na vespera. Fazia
Calor intenso; a pobre moça ardia,
Com fino leque as faces refrescava.
Ora, no leque em boa lettra feito
Havia este conceito:
«Quando, immovel o vento e o ár pesado,Arder o intenso estio,Serei por mão amiga ambicionado;Mas volte o tempo frio,Ver-me-heis a um canto logo abandonado.»
«Quando, immovel o vento e o ár pesado,
Arder o intenso estio,
Serei por mão amiga ambicionado;
Mas volte o tempo frio,
Ver-me-heis a um canto logo abandonado.»
Lê a esposa este aviso, e o pensamentoVolve ao joven marido:«Arde-lhe o coração n'este momento(Diz ella) e vem buscar enternecidoBrandas auras de amor. Quando mais tardeTornar-se em cinza friaO fogo que hoje lhe arde,Talvez me esqueça e me desdenhe um dia.»
Lê a esposa este aviso, e o pensamento
Volve ao joven marido:
«Arde-lhe o coração n'este momento
(Diz ella) e vem buscar enternecido
Brandas auras de amor. Quando mais tarde
Tornar-se em cinza fria
O fogo que hoje lhe arde,
Talvez me esqueça e me desdenhe um dia.»
Machado Assis,Phalenas, p. 121.
Machado Assis,Phalenas, p. 121.
—D'onde vens, Laura? «De casa.»—Vaes á festa? «Já se vê.»—Tão sósinha? «O que tem isso?»—Vou comtigo... «Para o que?»—Para ensinar-te o caminho...«Agradeço-lhe o favor;Eu sei de cór estas bandas,Obrigada, meu senhor.»—Olha o demo se te encontra...«Pergunto ao demo o que quer.»—E se elle quizer um beijo?«Dou-lhe até mais, se quizer.»—Ora, anda cá; dá-me o beijo,Porque o demonio em mim vês...«Já me estava parecendo...»Ficará para outra vez.—Vá d'esta vez um abraço...«Abraço?»—Sim; o que tem?«Mamãe me disse outro dia...»—O que te disse a mamãe?«Que a rapariga solteiraEm abraçando um rapaz...Ferve-lhe o sangue nas veias,E depois...» —E depois? «Zás!»Arregaçando o vestidoDeitou-se Laura a correr;Deixando-me boquiaberto,Co'o sangue todo a ferver.Bruno de Seabra,Flores e Fructos, p. 115. Rio de Janeiro, 1862.
—D'onde vens, Laura? «De casa.»—Vaes á festa? «Já se vê.»—Tão sósinha? «O que tem isso?»—Vou comtigo... «Para o que?»—Para ensinar-te o caminho...«Agradeço-lhe o favor;Eu sei de cór estas bandas,Obrigada, meu senhor.»—Olha o demo se te encontra...«Pergunto ao demo o que quer.»—E se elle quizer um beijo?«Dou-lhe até mais, se quizer.»—Ora, anda cá; dá-me o beijo,Porque o demonio em mim vês...«Já me estava parecendo...»Ficará para outra vez.—Vá d'esta vez um abraço...«Abraço?»—Sim; o que tem?«Mamãe me disse outro dia...»—O que te disse a mamãe?«Que a rapariga solteiraEm abraçando um rapaz...Ferve-lhe o sangue nas veias,E depois...» —E depois? «Zás!»Arregaçando o vestidoDeitou-se Laura a correr;Deixando-me boquiaberto,Co'o sangue todo a ferver.Bruno de Seabra,Flores e Fructos, p. 115. Rio de Janeiro, 1862.
—D'onde vens, Laura? «De casa.»—Vaes á festa? «Já se vê.»—Tão sósinha? «O que tem isso?»—Vou comtigo... «Para o que?»
—D'onde vens, Laura? «De casa.»
—Vaes á festa? «Já se vê.»
—Tão sósinha? «O que tem isso?»
—Vou comtigo... «Para o que?»
—Para ensinar-te o caminho...«Agradeço-lhe o favor;Eu sei de cór estas bandas,Obrigada, meu senhor.»
—Para ensinar-te o caminho...
«Agradeço-lhe o favor;
Eu sei de cór estas bandas,
Obrigada, meu senhor.»
—Olha o demo se te encontra...«Pergunto ao demo o que quer.»—E se elle quizer um beijo?«Dou-lhe até mais, se quizer.»
—Olha o demo se te encontra...
«Pergunto ao demo o que quer.»
—E se elle quizer um beijo?
«Dou-lhe até mais, se quizer.»
—Ora, anda cá; dá-me o beijo,Porque o demonio em mim vês...«Já me estava parecendo...»Ficará para outra vez.
—Ora, anda cá; dá-me o beijo,
Porque o demonio em mim vês...
«Já me estava parecendo...»
Ficará para outra vez.
—Vá d'esta vez um abraço...«Abraço?»—Sim; o que tem?«Mamãe me disse outro dia...»—O que te disse a mamãe?
—Vá d'esta vez um abraço...
«Abraço?»—Sim; o que tem?
«Mamãe me disse outro dia...»
—O que te disse a mamãe?
«Que a rapariga solteiraEm abraçando um rapaz...Ferve-lhe o sangue nas veias,E depois...» —E depois? «Zás!»
«Que a rapariga solteira
Em abraçando um rapaz...
Ferve-lhe o sangue nas veias,
E depois...» —E depois? «Zás!»
Arregaçando o vestidoDeitou-se Laura a correr;Deixando-me boquiaberto,Co'o sangue todo a ferver.
Arregaçando o vestido
Deitou-se Laura a correr;
Deixando-me boquiaberto,
Co'o sangue todo a ferver.
Bruno de Seabra,Flores e Fructos, p. 115. Rio de Janeiro, 1862.
Bruno de Seabra,Flores e Fructos, p. 115. Rio de Janeiro, 1862.
Ai do poeta que se accolhe a um throno,E que implora de um rei mão protectora!Ai d'elle! n'esse putrido ambientePende-lhe morta a fronte sonhadora.Assim ao viajor da Africa adustaHospitaleiro abrigo lhe similhaUma arvore gigante; e elle adormeceMorto á sombra lethal da mancenilha!Lucio de Mendonça,Alvoradas, p. 149. Rio de Janeiro, 1875.
Ai do poeta que se accolhe a um throno,E que implora de um rei mão protectora!Ai d'elle! n'esse putrido ambientePende-lhe morta a fronte sonhadora.Assim ao viajor da Africa adustaHospitaleiro abrigo lhe similhaUma arvore gigante; e elle adormeceMorto á sombra lethal da mancenilha!Lucio de Mendonça,Alvoradas, p. 149. Rio de Janeiro, 1875.
Ai do poeta que se accolhe a um throno,E que implora de um rei mão protectora!Ai d'elle! n'esse putrido ambientePende-lhe morta a fronte sonhadora.
Ai do poeta que se accolhe a um throno,
E que implora de um rei mão protectora!
Ai d'elle! n'esse putrido ambiente
Pende-lhe morta a fronte sonhadora.
Assim ao viajor da Africa adustaHospitaleiro abrigo lhe similhaUma arvore gigante; e elle adormeceMorto á sombra lethal da mancenilha!
Assim ao viajor da Africa adusta
Hospitaleiro abrigo lhe similha
Uma arvore gigante; e elle adormece
Morto á sombra lethal da mancenilha!
Lucio de Mendonça,Alvoradas, p. 149. Rio de Janeiro, 1875.
Lucio de Mendonça,Alvoradas, p. 149. Rio de Janeiro, 1875.
Minh'alma é como a rôla gemedoraQue delira, palpita, arqueja e chora,Na folhagem sombria da mangueira;Como um cysne gentil de argenteas plumas,Que fallece de amor sobre as espumasA soluçar a queixa derradeira.Meu coração é o lothus do Oriente,Que desmaia aos languores do occidente,Implorando do orvalho as lácteas pérolas;E na penumbra pallida se inclina,E murmura rolando na campina:—Oh brisa, me transporta ás plagas cérulas.Ai, quero nos jardins da adolescenciaEsquecer-me das urzes da existencia,Nectarisar o fel de acerbas dôres!Depois... remontarei ao paraiso,Nos labios tendo os lirios do sorriso,Sobre as azas dos mysticos amores.Narcisa Amalia,Nebulosas, p. 59. Rio de Janeiro, 1872.
Minh'alma é como a rôla gemedoraQue delira, palpita, arqueja e chora,Na folhagem sombria da mangueira;Como um cysne gentil de argenteas plumas,Que fallece de amor sobre as espumasA soluçar a queixa derradeira.Meu coração é o lothus do Oriente,Que desmaia aos languores do occidente,Implorando do orvalho as lácteas pérolas;E na penumbra pallida se inclina,E murmura rolando na campina:—Oh brisa, me transporta ás plagas cérulas.Ai, quero nos jardins da adolescenciaEsquecer-me das urzes da existencia,Nectarisar o fel de acerbas dôres!Depois... remontarei ao paraiso,Nos labios tendo os lirios do sorriso,Sobre as azas dos mysticos amores.Narcisa Amalia,Nebulosas, p. 59. Rio de Janeiro, 1872.
Minh'alma é como a rôla gemedoraQue delira, palpita, arqueja e chora,Na folhagem sombria da mangueira;Como um cysne gentil de argenteas plumas,Que fallece de amor sobre as espumasA soluçar a queixa derradeira.
Minh'alma é como a rôla gemedora
Que delira, palpita, arqueja e chora,
Na folhagem sombria da mangueira;
Como um cysne gentil de argenteas plumas,
Que fallece de amor sobre as espumas
A soluçar a queixa derradeira.
Meu coração é o lothus do Oriente,Que desmaia aos languores do occidente,Implorando do orvalho as lácteas pérolas;E na penumbra pallida se inclina,E murmura rolando na campina:—Oh brisa, me transporta ás plagas cérulas.
Meu coração é o lothus do Oriente,
Que desmaia aos languores do occidente,
Implorando do orvalho as lácteas pérolas;
E na penumbra pallida se inclina,
E murmura rolando na campina:
—Oh brisa, me transporta ás plagas cérulas.
Ai, quero nos jardins da adolescenciaEsquecer-me das urzes da existencia,Nectarisar o fel de acerbas dôres!Depois... remontarei ao paraiso,Nos labios tendo os lirios do sorriso,Sobre as azas dos mysticos amores.
Ai, quero nos jardins da adolescencia
Esquecer-me das urzes da existencia,
Nectarisar o fel de acerbas dôres!
Depois... remontarei ao paraiso,
Nos labios tendo os lirios do sorriso,
Sobre as azas dos mysticos amores.
Narcisa Amalia,Nebulosas, p. 59. Rio de Janeiro, 1872.
Narcisa Amalia,Nebulosas, p. 59. Rio de Janeiro, 1872.
Ai! dizes que não me queixe?Que de vogar eu me deixeN'um mar de scismas sem fim?Que não lamente meu fado,Desprezado,Desprezado sempre assim!Ai de mim!Que distante dos teus olhos,Nas trevas por entre abrolhos,Vagando ás tontas sem fim,Não maldiga a triste vidaDolorida,Dolorida sempre assim?Ai de mim.Ai, se tu és minha estrella,Que luz, que brilha tão bellaN'esse horisonte sem fim,Porque te occultas? Sem norte...Cruel morte,Cruel morte eu soffro assim!Ai de mim.Bettencourt Sampaio,Flores sylvestres, p. 26 Rio de Janeiro, 1860.
Ai! dizes que não me queixe?Que de vogar eu me deixeN'um mar de scismas sem fim?Que não lamente meu fado,Desprezado,Desprezado sempre assim!Ai de mim!Que distante dos teus olhos,Nas trevas por entre abrolhos,Vagando ás tontas sem fim,Não maldiga a triste vidaDolorida,Dolorida sempre assim?Ai de mim.Ai, se tu és minha estrella,Que luz, que brilha tão bellaN'esse horisonte sem fim,Porque te occultas? Sem norte...Cruel morte,Cruel morte eu soffro assim!Ai de mim.Bettencourt Sampaio,Flores sylvestres, p. 26 Rio de Janeiro, 1860.
Ai! dizes que não me queixe?Que de vogar eu me deixeN'um mar de scismas sem fim?Que não lamente meu fado,Desprezado,Desprezado sempre assim!Ai de mim!
Ai! dizes que não me queixe?
Que de vogar eu me deixe
N'um mar de scismas sem fim?
Que não lamente meu fado,
Desprezado,
Desprezado sempre assim!
Ai de mim!
Que distante dos teus olhos,Nas trevas por entre abrolhos,Vagando ás tontas sem fim,Não maldiga a triste vidaDolorida,Dolorida sempre assim?Ai de mim.
Que distante dos teus olhos,
Nas trevas por entre abrolhos,
Vagando ás tontas sem fim,
Não maldiga a triste vida
Dolorida,
Dolorida sempre assim?
Ai de mim.
Ai, se tu és minha estrella,Que luz, que brilha tão bellaN'esse horisonte sem fim,Porque te occultas? Sem norte...Cruel morte,Cruel morte eu soffro assim!Ai de mim.
Ai, se tu és minha estrella,
Que luz, que brilha tão bella
N'esse horisonte sem fim,
Porque te occultas? Sem norte...
Cruel morte,
Cruel morte eu soffro assim!
Ai de mim.
Bettencourt Sampaio,Flores sylvestres, p. 26 Rio de Janeiro, 1860.
Bettencourt Sampaio,Flores sylvestres, p. 26 Rio de Janeiro, 1860.
Teus olhos brilhantesMe cegam de luz;São vivos diamantesDe raios cingidosDa noite embutidosEm dois cilios nús.Teus olhos que agitam,Que queimam, que fitam,Teus olhos brilhantesMe cegam de luz.Mas ai! não pudessemTeus olhos ser taes!Que morte elles dessem,Não fogo e martyrioDa mente ao delirio,Do peito a meus ais!Se nunca elles matam,Mas se alma arrebatam,Ai! nunca pudessemTeus olhos ser taes!Teu corpo fluctúaQual concha no mar,Mais doce que a lua,Mais frouxo que a espuma,Mais tenue que a plumaNos braços do ár;Se a dansa os vestidosTe agita—aos sentidosTeu corpo fluctúaQual concha no mar.Mas ai! nunca eu visseComo és tão gentil!Que nunca sentisseTeu corpo engraçadoVoar balançandoNa dansa subtil!Se roe-me o desejo,De ver-te e não vejo,Ah! nunca te visseComo és tão gentil.Teus seios me turvamA vista e a rasão:Nas roupas se curvamTão presos, tão vivos...Oh! doces cativos,Quebrae tal prisão,E inquietos, travessosDo collo nos gêssosTeus seios me turvamA vista e a rasão.E Deus faz na terraMulheres assim!E quando o homem erra,Perdido de amores,Será, meus senhores,Um doudo por fim?Se o peito suspira,Se a mente delira,Se Deus faz na terraMulheres assim?F. Dias Carneiro,Parnaso maranhense, p. 115. Maranhão, 1861.
Teus olhos brilhantesMe cegam de luz;São vivos diamantesDe raios cingidosDa noite embutidosEm dois cilios nús.Teus olhos que agitam,Que queimam, que fitam,Teus olhos brilhantesMe cegam de luz.Mas ai! não pudessemTeus olhos ser taes!Que morte elles dessem,Não fogo e martyrioDa mente ao delirio,Do peito a meus ais!Se nunca elles matam,Mas se alma arrebatam,Ai! nunca pudessemTeus olhos ser taes!Teu corpo fluctúaQual concha no mar,Mais doce que a lua,Mais frouxo que a espuma,Mais tenue que a plumaNos braços do ár;Se a dansa os vestidosTe agita—aos sentidosTeu corpo fluctúaQual concha no mar.Mas ai! nunca eu visseComo és tão gentil!Que nunca sentisseTeu corpo engraçadoVoar balançandoNa dansa subtil!Se roe-me o desejo,De ver-te e não vejo,Ah! nunca te visseComo és tão gentil.Teus seios me turvamA vista e a rasão:Nas roupas se curvamTão presos, tão vivos...Oh! doces cativos,Quebrae tal prisão,E inquietos, travessosDo collo nos gêssosTeus seios me turvamA vista e a rasão.E Deus faz na terraMulheres assim!E quando o homem erra,Perdido de amores,Será, meus senhores,Um doudo por fim?Se o peito suspira,Se a mente delira,Se Deus faz na terraMulheres assim?F. Dias Carneiro,Parnaso maranhense, p. 115. Maranhão, 1861.
Teus olhos brilhantesMe cegam de luz;São vivos diamantesDe raios cingidosDa noite embutidosEm dois cilios nús.Teus olhos que agitam,Que queimam, que fitam,Teus olhos brilhantesMe cegam de luz.
Teus olhos brilhantes
Me cegam de luz;
São vivos diamantes
De raios cingidos
Da noite embutidos
Em dois cilios nús.
Teus olhos que agitam,
Que queimam, que fitam,
Teus olhos brilhantes
Me cegam de luz.
Mas ai! não pudessemTeus olhos ser taes!Que morte elles dessem,Não fogo e martyrioDa mente ao delirio,Do peito a meus ais!Se nunca elles matam,Mas se alma arrebatam,Ai! nunca pudessemTeus olhos ser taes!
Mas ai! não pudessem
Teus olhos ser taes!
Que morte elles dessem,
Não fogo e martyrio
Da mente ao delirio,
Do peito a meus ais!
Se nunca elles matam,
Mas se alma arrebatam,
Ai! nunca pudessem
Teus olhos ser taes!
Teu corpo fluctúaQual concha no mar,Mais doce que a lua,Mais frouxo que a espuma,Mais tenue que a plumaNos braços do ár;Se a dansa os vestidosTe agita—aos sentidosTeu corpo fluctúaQual concha no mar.
Teu corpo fluctúa
Qual concha no mar,
Mais doce que a lua,
Mais frouxo que a espuma,
Mais tenue que a pluma
Nos braços do ár;
Se a dansa os vestidos
Te agita—aos sentidos
Teu corpo fluctúa
Qual concha no mar.
Mas ai! nunca eu visseComo és tão gentil!Que nunca sentisseTeu corpo engraçadoVoar balançandoNa dansa subtil!Se roe-me o desejo,De ver-te e não vejo,Ah! nunca te visseComo és tão gentil.
Mas ai! nunca eu visse
Como és tão gentil!
Que nunca sentisse
Teu corpo engraçado
Voar balançando
Na dansa subtil!
Se roe-me o desejo,
De ver-te e não vejo,
Ah! nunca te visse
Como és tão gentil.
Teus seios me turvamA vista e a rasão:Nas roupas se curvamTão presos, tão vivos...Oh! doces cativos,Quebrae tal prisão,E inquietos, travessosDo collo nos gêssosTeus seios me turvamA vista e a rasão.
Teus seios me turvam
A vista e a rasão:
Nas roupas se curvam
Tão presos, tão vivos...
Oh! doces cativos,
Quebrae tal prisão,
E inquietos, travessos
Do collo nos gêssos
Teus seios me turvam
A vista e a rasão.
E Deus faz na terraMulheres assim!E quando o homem erra,Perdido de amores,Será, meus senhores,Um doudo por fim?Se o peito suspira,Se a mente delira,Se Deus faz na terraMulheres assim?
E Deus faz na terra
Mulheres assim!
E quando o homem erra,
Perdido de amores,
Será, meus senhores,
Um doudo por fim?
Se o peito suspira,
Se a mente delira,
Se Deus faz na terra
Mulheres assim?
F. Dias Carneiro,Parnaso maranhense, p. 115. Maranhão, 1861.
F. Dias Carneiro,Parnaso maranhense, p. 115. Maranhão, 1861.
Não foi nos campos, onde a vida correPlacida, longe do rumor do mundo,Onde um suspiro, que nos labios morre,Traz o segredo de um amor profundo;Onde o arroio de cristal deslisaPor entre o aroma de mimosas flores;Onde parece que a formosa luaRespira e sente, como nós, amores!Não foi nas praias onde as brandas vagasVem á tardinha soluçar, gemer;Onde os amantes com o sorrir nos labiosSonham venturas de um feliz viver;Onde a donzella que só pensa e scismaEm aureos sonhos, que os amores tem,Meiga suspira e arroubada escutaCanções do nauta, que do mar lhe vem.Não; essa noute em que eu feliz sentiaSobre o meu braço tua mão pender,Entre os ruidos d'esse mundo loucoSerena vimol-a perpassar, correr!E no bulicio d'este mundo frivoloEntre essa turba sempre louca e van,Eu recolhia tuas phrases soltasNo imo peito com fervor e afan!Que de venturas em aspirar teu halito;Fixar teus olhos que o pudor baixava!Manso, bem manso te batia o seio,Que eu em delirio contra o meu chegava.E a voz tão fresca e argentina e pura,Que me parece estar ouvindo ainda!Se n'este mundo já gozei ventura,Foi n'essa noute, n'essa noute linda.Em puro extasis minha voz tremia,Talvez te lembres, descórado estava!Tudo o que eu vi era só pompa e risos,Tudo de amores e prazer fallava.Que noite linda, que luar formoso!Meu peito ardente de prazer tremia!De tuas tranças aspirava o aroma,Sobre o meu braço tua mão pendia.E no bulicio d'este mundo frivoloSerena vimol-a perpassar, correrA noite linda que me deu prazeres,Sonhos, venturas de um feliz viver!F. Vieira de Sousa.Parnaso maranhense, p. 119.
Não foi nos campos, onde a vida correPlacida, longe do rumor do mundo,Onde um suspiro, que nos labios morre,Traz o segredo de um amor profundo;Onde o arroio de cristal deslisaPor entre o aroma de mimosas flores;Onde parece que a formosa luaRespira e sente, como nós, amores!Não foi nas praias onde as brandas vagasVem á tardinha soluçar, gemer;Onde os amantes com o sorrir nos labiosSonham venturas de um feliz viver;Onde a donzella que só pensa e scismaEm aureos sonhos, que os amores tem,Meiga suspira e arroubada escutaCanções do nauta, que do mar lhe vem.Não; essa noute em que eu feliz sentiaSobre o meu braço tua mão pender,Entre os ruidos d'esse mundo loucoSerena vimol-a perpassar, correr!E no bulicio d'este mundo frivoloEntre essa turba sempre louca e van,Eu recolhia tuas phrases soltasNo imo peito com fervor e afan!Que de venturas em aspirar teu halito;Fixar teus olhos que o pudor baixava!Manso, bem manso te batia o seio,Que eu em delirio contra o meu chegava.E a voz tão fresca e argentina e pura,Que me parece estar ouvindo ainda!Se n'este mundo já gozei ventura,Foi n'essa noute, n'essa noute linda.Em puro extasis minha voz tremia,Talvez te lembres, descórado estava!Tudo o que eu vi era só pompa e risos,Tudo de amores e prazer fallava.Que noite linda, que luar formoso!Meu peito ardente de prazer tremia!De tuas tranças aspirava o aroma,Sobre o meu braço tua mão pendia.E no bulicio d'este mundo frivoloSerena vimol-a perpassar, correrA noite linda que me deu prazeres,Sonhos, venturas de um feliz viver!F. Vieira de Sousa.Parnaso maranhense, p. 119.
Não foi nos campos, onde a vida correPlacida, longe do rumor do mundo,Onde um suspiro, que nos labios morre,Traz o segredo de um amor profundo;
Não foi nos campos, onde a vida corre
Placida, longe do rumor do mundo,
Onde um suspiro, que nos labios morre,
Traz o segredo de um amor profundo;
Onde o arroio de cristal deslisaPor entre o aroma de mimosas flores;Onde parece que a formosa luaRespira e sente, como nós, amores!
Onde o arroio de cristal deslisa
Por entre o aroma de mimosas flores;
Onde parece que a formosa lua
Respira e sente, como nós, amores!
Não foi nas praias onde as brandas vagasVem á tardinha soluçar, gemer;Onde os amantes com o sorrir nos labiosSonham venturas de um feliz viver;
Não foi nas praias onde as brandas vagas
Vem á tardinha soluçar, gemer;
Onde os amantes com o sorrir nos labios
Sonham venturas de um feliz viver;
Onde a donzella que só pensa e scismaEm aureos sonhos, que os amores tem,Meiga suspira e arroubada escutaCanções do nauta, que do mar lhe vem.
Onde a donzella que só pensa e scisma
Em aureos sonhos, que os amores tem,
Meiga suspira e arroubada escuta
Canções do nauta, que do mar lhe vem.
Não; essa noute em que eu feliz sentiaSobre o meu braço tua mão pender,Entre os ruidos d'esse mundo loucoSerena vimol-a perpassar, correr!
Não; essa noute em que eu feliz sentia
Sobre o meu braço tua mão pender,
Entre os ruidos d'esse mundo louco
Serena vimol-a perpassar, correr!
E no bulicio d'este mundo frivoloEntre essa turba sempre louca e van,Eu recolhia tuas phrases soltasNo imo peito com fervor e afan!
E no bulicio d'este mundo frivolo
Entre essa turba sempre louca e van,
Eu recolhia tuas phrases soltas
No imo peito com fervor e afan!
Que de venturas em aspirar teu halito;Fixar teus olhos que o pudor baixava!Manso, bem manso te batia o seio,Que eu em delirio contra o meu chegava.
Que de venturas em aspirar teu halito;
Fixar teus olhos que o pudor baixava!
Manso, bem manso te batia o seio,
Que eu em delirio contra o meu chegava.
E a voz tão fresca e argentina e pura,Que me parece estar ouvindo ainda!Se n'este mundo já gozei ventura,Foi n'essa noute, n'essa noute linda.
E a voz tão fresca e argentina e pura,
Que me parece estar ouvindo ainda!
Se n'este mundo já gozei ventura,
Foi n'essa noute, n'essa noute linda.
Em puro extasis minha voz tremia,Talvez te lembres, descórado estava!Tudo o que eu vi era só pompa e risos,Tudo de amores e prazer fallava.
Em puro extasis minha voz tremia,
Talvez te lembres, descórado estava!
Tudo o que eu vi era só pompa e risos,
Tudo de amores e prazer fallava.
Que noite linda, que luar formoso!Meu peito ardente de prazer tremia!De tuas tranças aspirava o aroma,Sobre o meu braço tua mão pendia.
Que noite linda, que luar formoso!
Meu peito ardente de prazer tremia!
De tuas tranças aspirava o aroma,
Sobre o meu braço tua mão pendia.
E no bulicio d'este mundo frivoloSerena vimol-a perpassar, correrA noite linda que me deu prazeres,Sonhos, venturas de um feliz viver!
E no bulicio d'este mundo frivolo
Serena vimol-a perpassar, correr
A noite linda que me deu prazeres,
Sonhos, venturas de um feliz viver!
F. Vieira de Sousa.Parnaso maranhense, p. 119.
F. Vieira de Sousa.Parnaso maranhense, p. 119.
Se bem o digo, mulher, a hora infausta.Em que da vida a luz primeira eu vi,Se ao duro embate de uma cruel sorteAté hoje, mulher, não succumbí,O devo a ti!Se presinto glorias n'um provir remoto,E vejo estrada nova que não vi,Se eu aspiro, mulher, do louro as palmas,E ás duras provações, não esmoreci,O devo a ti!Se morte ingloria receioso temo,Se a vãos perigos sempre me sorri,É p'ra dizer-te no momento extremo:Vivi! em vão luctei, morro por ti!F. G. F. de Mattos,Parnaso maranhense, p. 125.
Se bem o digo, mulher, a hora infausta.Em que da vida a luz primeira eu vi,Se ao duro embate de uma cruel sorteAté hoje, mulher, não succumbí,O devo a ti!Se presinto glorias n'um provir remoto,E vejo estrada nova que não vi,Se eu aspiro, mulher, do louro as palmas,E ás duras provações, não esmoreci,O devo a ti!Se morte ingloria receioso temo,Se a vãos perigos sempre me sorri,É p'ra dizer-te no momento extremo:Vivi! em vão luctei, morro por ti!F. G. F. de Mattos,Parnaso maranhense, p. 125.
Se bem o digo, mulher, a hora infausta.Em que da vida a luz primeira eu vi,Se ao duro embate de uma cruel sorteAté hoje, mulher, não succumbí,O devo a ti!
Se bem o digo, mulher, a hora infausta.
Em que da vida a luz primeira eu vi,
Se ao duro embate de uma cruel sorte
Até hoje, mulher, não succumbí,
O devo a ti!
Se presinto glorias n'um provir remoto,E vejo estrada nova que não vi,Se eu aspiro, mulher, do louro as palmas,E ás duras provações, não esmoreci,O devo a ti!
Se presinto glorias n'um provir remoto,
E vejo estrada nova que não vi,
Se eu aspiro, mulher, do louro as palmas,
E ás duras provações, não esmoreci,
O devo a ti!
Se morte ingloria receioso temo,Se a vãos perigos sempre me sorri,É p'ra dizer-te no momento extremo:Vivi! em vão luctei, morro por ti!
Se morte ingloria receioso temo,
Se a vãos perigos sempre me sorri,
É p'ra dizer-te no momento extremo:
Vivi! em vão luctei, morro por ti!
F. G. F. de Mattos,Parnaso maranhense, p. 125.
F. G. F. de Mattos,Parnaso maranhense, p. 125.
Eu sinto a fronte palpitar de idéas,Eu sinto o peito palpitar de ardor!O que me falta pois? o que preciso?Um amor!Um amor, um amor de virgem bella,Cheia de mocidade e de pudor!Eu só procuro, só desejo e queroUm amor!Não permittas, meu Deus, que triste passeDe minha juventude toda a flor,Sem que ao menos inspire, e sinta e goseUm amor!A. J. Franco de Sá,Poesias, p. 55. S. Luiz do Maranhão, 1869.
Eu sinto a fronte palpitar de idéas,Eu sinto o peito palpitar de ardor!O que me falta pois? o que preciso?Um amor!Um amor, um amor de virgem bella,Cheia de mocidade e de pudor!Eu só procuro, só desejo e queroUm amor!Não permittas, meu Deus, que triste passeDe minha juventude toda a flor,Sem que ao menos inspire, e sinta e goseUm amor!A. J. Franco de Sá,Poesias, p. 55. S. Luiz do Maranhão, 1869.
Eu sinto a fronte palpitar de idéas,Eu sinto o peito palpitar de ardor!O que me falta pois? o que preciso?Um amor!
Eu sinto a fronte palpitar de idéas,
Eu sinto o peito palpitar de ardor!
O que me falta pois? o que preciso?
Um amor!
Um amor, um amor de virgem bella,Cheia de mocidade e de pudor!Eu só procuro, só desejo e queroUm amor!
Um amor, um amor de virgem bella,
Cheia de mocidade e de pudor!
Eu só procuro, só desejo e quero
Um amor!
Não permittas, meu Deus, que triste passeDe minha juventude toda a flor,Sem que ao menos inspire, e sinta e goseUm amor!
Não permittas, meu Deus, que triste passe
De minha juventude toda a flor,
Sem que ao menos inspire, e sinta e gose
Um amor!
A. J. Franco de Sá,Poesias, p. 55. S. Luiz do Maranhão, 1869.
A. J. Franco de Sá,Poesias, p. 55. S. Luiz do Maranhão, 1869.
Existe uma virgem que o céo me destina,Com quem delirante meu peito já sonha;Eu vejo-a na fórma da virgem risonha,Do céo nas estrellas, na flôr da campina,Á noite, do bosque por entre a mudez;Na brisa que passa por entre os palmares,A voz bem lhe escuto que falla inda a medo...Eu sinto na fronte seus meigos olhares!...Quem dera-me ao peito cingil a bem cedo...Quem sabe? talvez!E tu nada sentes? tu nada procuras?Nos quadros tão lindos que tu phantasiasUm dia brilhante de occultas magias,De amores ardentes, de infindas venturas,Ó virgem! não viste siquer uma vez?Nos breves delirios, nos teus devaneios,Nos vagos desejos da mente inquieta,Que o peito te abalam, arfando-te os seios,Não sonhas ás vezes o amor de um poeta?Quem sabe? talvez!Tu sonhas; que virgem não sonha de amores?Tu sonhas um doce viver duplicado,Viver como os anjos de amor exaltado,Viver de perfumes, de luz, como as flores,Que Deus como as flores e os anjos te fez;E uma alma formada de amor como a tuaNo mundo que habitas procuras de certo...Debalde... tua vista vacilla, fluctua...E esse ente, quem sabe si existe bem perto?Quem sabe? talvez!Quem sabe si a virgem que o céo me reserva,Que pura e formosa diviso na mente,Que o peito me pede, que o peito presente,P'ra quem puro, isento, fiel se conserva,Quem sabe si és tu? no riso, na tez,Nos olhos... na face tão pallida e bella...Uns áres, uns visos comtigo lhe noto...Nos longos cabellos... Quem sabe si és ella?Aquella a que em sonhos minha alma já voto?Quem sabe? talvez!Quem sabe? de tarde seguindo teus passosO anjo dos sonhos parece que vejo,Meu peito palpita, e vem-me o desejo,De, louco de amores, voar a teus braços,Beijar-te os cabellos, morrer a teus pés!...E tu não presentes, oh virgem! que eu ardoE quando teus olhos de encanto celesteOs olhos ardentes encontram do bardo,No peito de virgem tu nunca disseste:Quem sabe? talvez!Ah! dize... si és tu, fugir-me não tentes,És tu que procuro? ah! dize, que eu creio...Tu flores bem frescas abrigas no seio?Bastantes perfumes no peito tu sentes?Um céo de ternura tu tens que me dês?Ah! falla, responde, teu dito me tragaUm mar de delicias, de amor, de ventura;Ah! dize-me—-sim,—do peito me apagaA phrase terrivel, que a mente murmura:Quem sabe? talvez!A. J. Franco de Sá,Poesias, p. 63. S. Luiz do Maranhão.
Existe uma virgem que o céo me destina,Com quem delirante meu peito já sonha;Eu vejo-a na fórma da virgem risonha,Do céo nas estrellas, na flôr da campina,Á noite, do bosque por entre a mudez;Na brisa que passa por entre os palmares,A voz bem lhe escuto que falla inda a medo...Eu sinto na fronte seus meigos olhares!...Quem dera-me ao peito cingil a bem cedo...Quem sabe? talvez!E tu nada sentes? tu nada procuras?Nos quadros tão lindos que tu phantasiasUm dia brilhante de occultas magias,De amores ardentes, de infindas venturas,Ó virgem! não viste siquer uma vez?Nos breves delirios, nos teus devaneios,Nos vagos desejos da mente inquieta,Que o peito te abalam, arfando-te os seios,Não sonhas ás vezes o amor de um poeta?Quem sabe? talvez!Tu sonhas; que virgem não sonha de amores?Tu sonhas um doce viver duplicado,Viver como os anjos de amor exaltado,Viver de perfumes, de luz, como as flores,Que Deus como as flores e os anjos te fez;E uma alma formada de amor como a tuaNo mundo que habitas procuras de certo...Debalde... tua vista vacilla, fluctua...E esse ente, quem sabe si existe bem perto?Quem sabe? talvez!Quem sabe si a virgem que o céo me reserva,Que pura e formosa diviso na mente,Que o peito me pede, que o peito presente,P'ra quem puro, isento, fiel se conserva,Quem sabe si és tu? no riso, na tez,Nos olhos... na face tão pallida e bella...Uns áres, uns visos comtigo lhe noto...Nos longos cabellos... Quem sabe si és ella?Aquella a que em sonhos minha alma já voto?Quem sabe? talvez!Quem sabe? de tarde seguindo teus passosO anjo dos sonhos parece que vejo,Meu peito palpita, e vem-me o desejo,De, louco de amores, voar a teus braços,Beijar-te os cabellos, morrer a teus pés!...E tu não presentes, oh virgem! que eu ardoE quando teus olhos de encanto celesteOs olhos ardentes encontram do bardo,No peito de virgem tu nunca disseste:Quem sabe? talvez!Ah! dize... si és tu, fugir-me não tentes,És tu que procuro? ah! dize, que eu creio...Tu flores bem frescas abrigas no seio?Bastantes perfumes no peito tu sentes?Um céo de ternura tu tens que me dês?Ah! falla, responde, teu dito me tragaUm mar de delicias, de amor, de ventura;Ah! dize-me—-sim,—do peito me apagaA phrase terrivel, que a mente murmura:Quem sabe? talvez!A. J. Franco de Sá,Poesias, p. 63. S. Luiz do Maranhão.
Existe uma virgem que o céo me destina,Com quem delirante meu peito já sonha;Eu vejo-a na fórma da virgem risonha,Do céo nas estrellas, na flôr da campina,Á noite, do bosque por entre a mudez;Na brisa que passa por entre os palmares,A voz bem lhe escuto que falla inda a medo...Eu sinto na fronte seus meigos olhares!...Quem dera-me ao peito cingil a bem cedo...Quem sabe? talvez!
Existe uma virgem que o céo me destina,
Com quem delirante meu peito já sonha;
Eu vejo-a na fórma da virgem risonha,
Do céo nas estrellas, na flôr da campina,
Á noite, do bosque por entre a mudez;
Na brisa que passa por entre os palmares,
A voz bem lhe escuto que falla inda a medo...
Eu sinto na fronte seus meigos olhares!...
Quem dera-me ao peito cingil a bem cedo...
Quem sabe? talvez!
E tu nada sentes? tu nada procuras?Nos quadros tão lindos que tu phantasiasUm dia brilhante de occultas magias,De amores ardentes, de infindas venturas,Ó virgem! não viste siquer uma vez?Nos breves delirios, nos teus devaneios,Nos vagos desejos da mente inquieta,Que o peito te abalam, arfando-te os seios,Não sonhas ás vezes o amor de um poeta?Quem sabe? talvez!
E tu nada sentes? tu nada procuras?
Nos quadros tão lindos que tu phantasias
Um dia brilhante de occultas magias,
De amores ardentes, de infindas venturas,
Ó virgem! não viste siquer uma vez?
Nos breves delirios, nos teus devaneios,
Nos vagos desejos da mente inquieta,
Que o peito te abalam, arfando-te os seios,
Não sonhas ás vezes o amor de um poeta?
Quem sabe? talvez!
Tu sonhas; que virgem não sonha de amores?Tu sonhas um doce viver duplicado,Viver como os anjos de amor exaltado,Viver de perfumes, de luz, como as flores,Que Deus como as flores e os anjos te fez;E uma alma formada de amor como a tuaNo mundo que habitas procuras de certo...Debalde... tua vista vacilla, fluctua...E esse ente, quem sabe si existe bem perto?Quem sabe? talvez!
Tu sonhas; que virgem não sonha de amores?
Tu sonhas um doce viver duplicado,
Viver como os anjos de amor exaltado,
Viver de perfumes, de luz, como as flores,
Que Deus como as flores e os anjos te fez;
E uma alma formada de amor como a tua
No mundo que habitas procuras de certo...
Debalde... tua vista vacilla, fluctua...
E esse ente, quem sabe si existe bem perto?
Quem sabe? talvez!
Quem sabe si a virgem que o céo me reserva,Que pura e formosa diviso na mente,Que o peito me pede, que o peito presente,P'ra quem puro, isento, fiel se conserva,Quem sabe si és tu? no riso, na tez,Nos olhos... na face tão pallida e bella...Uns áres, uns visos comtigo lhe noto...Nos longos cabellos... Quem sabe si és ella?Aquella a que em sonhos minha alma já voto?Quem sabe? talvez!
Quem sabe si a virgem que o céo me reserva,
Que pura e formosa diviso na mente,
Que o peito me pede, que o peito presente,
P'ra quem puro, isento, fiel se conserva,
Quem sabe si és tu? no riso, na tez,
Nos olhos... na face tão pallida e bella...
Uns áres, uns visos comtigo lhe noto...
Nos longos cabellos... Quem sabe si és ella?
Aquella a que em sonhos minha alma já voto?
Quem sabe? talvez!
Quem sabe? de tarde seguindo teus passosO anjo dos sonhos parece que vejo,Meu peito palpita, e vem-me o desejo,De, louco de amores, voar a teus braços,Beijar-te os cabellos, morrer a teus pés!...E tu não presentes, oh virgem! que eu ardoE quando teus olhos de encanto celesteOs olhos ardentes encontram do bardo,No peito de virgem tu nunca disseste:Quem sabe? talvez!
Quem sabe? de tarde seguindo teus passos
O anjo dos sonhos parece que vejo,
Meu peito palpita, e vem-me o desejo,
De, louco de amores, voar a teus braços,
Beijar-te os cabellos, morrer a teus pés!...
E tu não presentes, oh virgem! que eu ardo
E quando teus olhos de encanto celeste
Os olhos ardentes encontram do bardo,
No peito de virgem tu nunca disseste:
Quem sabe? talvez!
Ah! dize... si és tu, fugir-me não tentes,És tu que procuro? ah! dize, que eu creio...Tu flores bem frescas abrigas no seio?Bastantes perfumes no peito tu sentes?Um céo de ternura tu tens que me dês?Ah! falla, responde, teu dito me tragaUm mar de delicias, de amor, de ventura;Ah! dize-me—-sim,—do peito me apagaA phrase terrivel, que a mente murmura:Quem sabe? talvez!
Ah! dize... si és tu, fugir-me não tentes,
És tu que procuro? ah! dize, que eu creio...
Tu flores bem frescas abrigas no seio?
Bastantes perfumes no peito tu sentes?
Um céo de ternura tu tens que me dês?
Ah! falla, responde, teu dito me traga
Um mar de delicias, de amor, de ventura;
Ah! dize-me—-sim,—do peito me apaga
A phrase terrivel, que a mente murmura:
Quem sabe? talvez!
A. J. Franco de Sá,Poesias, p. 63. S. Luiz do Maranhão.
A. J. Franco de Sá,Poesias, p. 63. S. Luiz do Maranhão.