XVIMais um caso extraordinario
A sr.ª Proh não falta a contar esta aventura a seu esposo, e o professor exclama:
—Não introduza nunca pessoas estranhas nos seus lares, eu tinha-a prevenido; ahi estamos com uma colhér de menos, por sua culpa.
—Mas, senhor, a menina Lisa não é uma estranha... demais estou bem persuadida de que ella não levou a nossa colhér.
—Então foi a colhér que se foi embora sósinha.
—Eu apalpei-a, revistei-a bem por toda a parte e ella não a tinha.
—Pensou a senhora revistar tudo... ha sitios mysteriosos onde se escondem muitas coisas; pergunte aos ladrões onde escondem os diamantes que roubaram!...
—Oh! senhor, uma colhér de sopa não se esconde como um diamante, ainda se fosse uma das pequenas!...
—Senhora, ha pessoas que teem grandes facilidades.
Esta historia da colhér de prata desapparecida não tarda a saber-se em todo o predio, e a ser o assumpto de todas as conversações. Adriana, que a ouve contar no cubículo do porteiro, não falta a ir referil-a a sua ama, que a escuta muito atenta, mas sem fazer reflexão.
—A senhora deu obra a fazer áquella rapariga, diz Adriana, mas quando ella aqui vier trazel-a, terei o cuidado de não lhe tirar a vista de cima, e de não deixar por ahi nada ao alcance da mão.
—Quando ella aqui vier, diz Ambrosina, ficará a menina no seu quarto até que eu a chame. Não se esqueça disto...
Adriana retira-se resmungando. O porteiro revistou o pateo e os canos das aguas; está persuadido de que a menina Lisa não é culpada. O Fonfonsinho canta na escada:
Ficámos sem uma colhér de prata,Desde que Lisa velou minha mana
Ficámos sem uma colhér de prata,Desde que Lisa velou minha mana
Ficámos sem uma colhér de prata,Desde que Lisa velou minha mana
Ficámos sem uma colhér de prata,
Desde que Lisa velou minha mana
E Rouflard, que ouve isto, apanha o rapazito pelos fundilhos das calças e suspende-o no ar, dizendo-lhe:
—Aposto que foste tu, velhaquete, que pregaste a peça; provavelmente foste buscar a colhér durante a noite para tomares xarope.
—Não é verdade... eu durmo com o papá, não me levanto de noite; isso é bom para o senhor.
—Cala-te, sapo!...
Os gritos do rapazinho fazem acudir os esposos Proh, assim como o jovem pintor. Ao saber dos boatos que correm a respeito de Lisa, Casimiro fica furioso; dirige-se à sr.ª Proh:
—Espero, minha senhora, que não suspeite que Lisa lhe tenha furtado essa peça de baixela que lhe falta?
—Eu não digo que foi ela que a tirou, mas digo quefoi quem a perdeu; acha que isto me possa ser agradavel?
—Minha senhora, eu fico responsavel por essa menina, e, aconteça o que acontecer, a senhora não perderá nada.
—E eu, exclama Rouflard, repito que a menina Lisa é incapaz de commetter uma acção feia! é um modelo de probidade, como de juizo, de prudencia, de bondade. Quem trabalha sem descanço para sustentar uma velha paralytica, não deve um instante ser suspeitada.
—Mas parece que a velha tem um grande amor pelas colhéres de prata, replica a sr.ª Proh, porque ella propria me mostrou uma que a sua Lisa lhe tinha comprado...
—O que prova á senhora que ella não tem precisão da sua.
—Abundancia de bens não prejudica, diz o professor.
—Ahi está uma reflexão bem digna do sr. Prorata.
Os esposos Proh voltam para sua casa cheios de colera. Casimiro apressa-se a subir a casa de Lisa. Acha-a com os olhos vermelhos de chorar; ella põe um dedo na bocca mostrando-lhe a avó. Casimiro comprehende que a rapariga occulta á pobre velha o caso da colhér; vae sentar-se ao pé da donzella e pega-lhe na mão, murmurando muito baixo:
—Tem então ainda algum desgosto, Lisa, a menina que merecia ser tão feliz?
—Ah! sr. Casimiro, o senhor sabe sem duvida a historia da colhér, ouço d’aqui o filho da sr.ª Proh que a canta na escada.
—Sim... eu sei pouco mais ou menos...
—Mas não acredita que eu tenha querido tirar uma colhér de prata á sr.ª Proh, não é verdade?
—Pois a menina pode fazer-me similhante pergunta! acaso não sei eu o que a menina vale! ah! eu faço-lhe justiça, a sua alma é pura como o seu olhar...
—E a senhora Montémolly, tem-n’a visto? sabe o que ella pensa a este respeito?
—Não tenho visto essa senhora, não a encontro nunca, ella deve pensar como quasi todos os outros inquilinos do predio, que anda aqui brincadeira, ou antes maldade do rapazinho.
—Não, elle não veiu ao quarto.
—Mas a menina não dormiu um só instante em toda a noite?
—Sim... dormi... até bastante tempo.
—Pois então alguem poude entrar durante o seu somno, e tirar essa colhér; mas esteja socegada aposto que brevemente descobriremos essa pessoa...
São passados seis dias, e os Proh não acharam ainda a colhér. Entretanto Ambrosina levou para sua casa a filha da sua amiga Florentina, emquanto esta foi tomar banhos do mar. A pequenita tem oito annos, e é muito bonita; mas sobrevem-lhe o sarampo, acompanhado d’uma febre violentissima. A menina Adriana, que tem muito medo de que se lhe pegue o sarampo, não se approxima do leito da doentinha senão de má vontade.
Então Ambrosina sobe de manhã cedo a casa de Lisa, que primeiramente se põe a tremer ao seu aspecto, mas logo se tranquilliza ao ver o sorriso d’esta senhora, que lhe diz:
—Menina, venho pedir-lhe um obsequio; tenho em minha casa a filha d’uma das minhas melhores amigas, que m’a confiou emquanto dura uma viagem que ella era obrigada a fazer; tenho os maiores cuidados com a Adelinasinha; mas este anjinho está n’este momento com sarampo e com uma febre ardentissima; a minha creada, que tem medo do sarampo, não tracta d’ella muito bem. Emfim, a menina fazia-me um grandissimo obsequio se quizesse vir passar esta noite á cabeceira da doentinha. Como sei que teve essa complacencia para com a sr.ª Proh, pensei que se não recusaria a fazer outro tanto por mim.
—Sim, minha senhora, responde Lisa suspirandosim, passei uma noite á cabeceira da filha da sr.ª Proh, mas deve saber que desgosto isso me occasionou; desappareceu n’essa noite uma colhér de prata, que não se achou mais; a sr.ª Proh bem sabe que não fui eu que lh’a tirei; mas, apesar d’isso, quem sabe! ha talvez ainda pessoas que suspeitam de mim.
—Este meu passo, deve provar-lhe que eu não sou d’essas pessoas; ao contrario, pedindo-lhe que vá ficar de noite em minha casa, pensei que isso poria termo a todos esses contos inconvenientes. A menina não se pode recusar...
—Mas, minha senhora...
—Não lhe peço que vá ás dez horas, desça um pouco antes da meia noite; depois, voltará cedo para sua casa. Bem vê que sua avó não terá tempo de dar pela sua ausencia...
—Minha senhora, não me atrevo a recusar; entretanto isto custa-me muito; tenho tanto desgosto pela noite que passei em casa da sr.ª Proh.
—Isso é uma creancice; em minha casa nada tem que recear. Até á noite, alli pela volta da meia noite... ou antes se quizer.
—Oh! prefiro ir tarde.
—Muito bem, está tractado; espero pela menina, porque quero eu mesma apresental-a no quarto da minha doentinha.
Ambrosina retira-se. Lisa deseja ardentemente ver Casimiro para lhe dar parte da sua nova contrariedade; o joven pintor não se faz esperar muito tempo. Ao saber o que a sr.ª Montémolly acaba de pedir a Lisa, fica bastante surprehendido, e parece não gostar de que esta tenha acceitado.
—Acaso fiz mal em acceder a ir ficar de noite em casa d’essa senhora? diz a donzella.
—A menina não se podia excusar, comprehendo, tendo-se já prestado a ir a casa da sr.ª Proh.
—E depois, aquella senhora é agora muito amavel commigo; bem vê que não dá credito aos aleives que se teem espalhado por causa d’aquella colhér perdida.
—Vejo; effectivamente, o procedimento d’essa senhora prova que ella faz-lhe justiça; e todavia custa-me a acreditar que ella lhe queira bem...
—Porque não?
—Ah! porque... emfim, vá esta noite velar a Adelinasinha, mas ámanhã, de manhã cedo, eu espreitarei a sua volta para casa.
—Oh! voltarei muito cedo.
É meia noite menos alguns minutos quando Lisa bate á porta da senhora do primeiro andar. É a gorda Adriana que vem abrir-lh’a e a introduz junto de sua ama, que recebe a donzella com um sorriso que não é talvez bem franco, mas que quer parecel-o. A sr.ª Montémolly apressa-se a conduzir Lisa para um lindo quarto onde dorme a doentinha, dizendo:
—Puz Adelina no quarto que reservo para a mãe d’ella, quando habita no campo e vem por acaso a Paris. Penso que a menina ficará aqui muito bem; por este corredor pode-se sair sem haver necessidade de acordar ninguem.
—Oh! minha senhora, eu não terei necessidade de sair esta noite, para quê?
—Ahi tem uma poltrona onde poderá repousar e mesmo dormir um pouco, se a doentinha estiver em socego. Aqui tem livros... Ah! quer cear?
—Oh! não, minha senhora, eu nunca ceio.
—Em todo o caso, se tiver fome, aqui tem bolos, biscoitos e vinho. Isto é tisana para a pequena; n’esta garrafinha está um calmante. E então, aquella tola da Adriana não poz aqui uma colhér! Adriana! Adriana!...
A creada acode esfregando os olhos.
—Adriana, traga para aqui uma colhér grande e algumas pequenas; se esta menina quizer tomar vinho com assucar, não se ha de servir da mesma colhér que empregar para a tisana.
A creada sae, e volta logo em seguida com uma colhér grande e duas pequenas, que ella põe em cima da mesa de cabeceira, dizendo:
—Isto faz uma colhér grande e tres pequenas... porque já cá estava uma.
—Está bem, Adriana, está bem! ninguem lhe pergunta a conta.
—Mas eu desejo muito fazer ver isto á senhora.
—Vá-se deitar.
—Isso e o que eu quero é a mesma coisa.
—Agora, menina Lisa, vou tambem descançar... a menina tem o que lhe é preciso; não deseja mais nada?
—Não, minha senhora, muito agradecida.
—Quando a pequenita acordar, é preciso fazel-a beber; depois, se tossir, deve-lhe dar o calmante.
—Pode ir socegada, minha senhora.
—Boa noite, até ámanhã. Virei cedo saber noticias da minha Adelina.
Lisa fica só. Põe-se a admirar o quarto onde se acha; a mobilia é toda nova e d’um gosto lindo.
—Que felicidade não é viver n’um aposento tão bonito, diz ella comsigo; mas a final de contas, tambem aqui se pode estar muito doente, e ter tanto desgosto como n’um modesto quarto de qualquer agua-furtada; eis aqui uns livros, mas não lerei nenhum, trouxe o meu trabalho, vou trabalhar.
Lisa deita-se ao bordado. D’ahi a pouco a Adelinasinha acorda, e ella dá-lhe de beber; um pouco mais tarde a creança tosse, e ella faz-lhe tomar uma colhér do calmante. Assim se passa uma parte da noite. Pela volta das tres horas, o somno apodera-se de Lisa, que procura em vão resistir-lhe porque n’ella a necessidade de dormir era tão imperiosa que não a podia vencer. Mas, como a sua doentinha dorme mui socegadamente, a joven enfermeira não tarda a fazer outro tanto.
Cerca das sete horas da manhã, Lisa acorda, e quasi no mesmo instante, abre-se uma porta e aparece a sr.ª Montémolly embrulhada n’um lindo roupão. Approxima-se da cama dizendo:
—Então, como vae a pequenita? passou bem a noite?
—Sim, minha senhora, muito bem; a menina tossiu pouco e dormiu optimamente; eu mesma cedi um pouco ao somno esta madrugada.
—Não ha mal nenhum n’isso, visto que a pequena não precisava de nada. Ah! ahi acorda ella. Bons dias, Adelina, como te sentes esta manhã?
A pequenita responde que se sente melhor, mas põe-se a tossir; Ambrosina exclama logo:
—Dê-me uma colhér do calmante, para eu lh’o fazer tomar; isso ha de aplacar-lhe a tosse.
Lisa corre á mesa onde estava o frasquinho e a colhér.
—Então, dê-me esse calmante, torna Ambrosina, bem ouve a creança estar a tossir...
—Sim, minha senhora, sim... mas é que... não acho a colhér...
—É que a pôz n’outro sitio... faça favor de a procurar...
—Valha-me Deus! é o que eu estou fazendo, minha senhora; mas não percebo isto... não a vejo...
—Mas a menina sabe muito bem que lhe ficou aqui uma, não é verdade?
—De certo, minha senhora, pois que me servi d’ella duas vezes esta noite...
—Então é que procura mal. Adriana! Adriana!... ah! é capaz de estar ainda a dormir... Adriana!...
Chega emfim a creada, esfregando os olhos:
—O que é, minha senhora?
—É que esta menina não acha a colhér que estava aqui hontem á noite...
—Ah! bem me lembro, havia uma grande e tres pequenas...
—As tres pequenas aqui estão, diz Lisa, mas não comprehendo como a grande não está aqui tambem...
—Ora! exclama a menina Adriana, olhem que admiração! terá ido juntar-se com a da sr.ª Proh...
—Oh! menina, é indigno isso que está dizendo! Minha senhora, acaso vae tambem pensar que tenho eu a sua colhér?
—Menina, o que quer que eu lhe diga... quandoos factos falam... é preciso render-se a gente á evidencia; a menina mesma concorda em que tinha aqui uma colhér de prata...
—Sim, minha senhora, sim convenho n’isso; repito-lhe que me servi d’ella esta noite para dar o calmante á menina...
—Pois bem! vossemecê ficou sósinha aqui esta noite... e esta manhã esse objecto desappareceu. Que outra pessoa, por consequencia, pode tel-a tirado?
—Oh! minha senhora, reviste-me, faça favor... verá que o não tenho...
—É inutil, quando alguem tira uma coisa não a esconde em si.
—Oh! é o mesmo, exclama Adriana, vou revistal-a eu; porque, emfim, não quero que se perca prata nenhuma na casa onde eu estou a servir.
A creada corre ás algibeiras de Lisa, e vira-as inteiramente; depois apalpa a rapariga de alto a baixo, e termina a sua inspecção exclamando:
—Nada! oh! affianço que não tem a colhér em si.
—Então, minha senhora, bem vê, diz Lisa.
—Vejo que a não escondeu em si; mas, se não a acharmos, é que a menina a terá levado para outra parte.
—Mas para onde, minha senhora, se não saí d’este quarto?
—Quem me prova isso? por este corredor pode-se sair perfeitamente sem acordar ninguem...
—Oh! minha senhora, é horrivel pensar isso. Meu Deus meu Deus! sou bem desgraçada!...
Lisa rompe em soluços. Adriana tem-se posto de gatas e esquadrinha debaixo de todos os moveis; mae em vão se procura por toda a parte, a colhér não se acha. Ambrosina approxima-se da pobre Lisa, que se afflige muito, e diz-lhe:
—Socegue, não darei seguimento a este negocio, o que outrem talvez faria, vá, não a demoro mais. Tomarei unicamente a liberdade de dizer ao sr. Casimiroque não é feliz na escolha dos seus novos conhecimentos.
Lisa não escuta mais nada; tarda-lhe sair d’aquelle quarto, que ella achou tão bonito na vespera. Caminha, mal podendo suster-se, e chega assim até á escada. Mas, no segundo andar, encontra Casimiro, que a estava esperando, e que exclama, vendo-a lavada em lagrimas:
—O que foi? que succedeu? o que tem a menina ainda? o que é que lhe fizeram para chorar assim?
Lisa conta a Casimiro o que se acaba de passar, e refere-lhe as palavras de Ambrosina, que lhe disse que ella teria podido sair sem acordar ninguem.
—Mas então, diz Casimiro, podia-se tambem chegar até junto da menina sem ser ouvido. A menina dormiu durante a noite?
—Ai! sim, pelas tres horas não pude resistir ao somno, é mais forte do que eu.
—Ah! que fatalidade, porque durante o seu somno poude alguem entrar n’esse quarto..
—Não me parece porque teria acordado.,.
—Suppôr que a menina tenha tirado essa colhér, isso não tem senso commum, depois do que aconteceu em casa da sr.ª Proh... que lhe causou tão grande degosto!
—É justamente por isso que me accusam ainda, a creada d’essa senhora disse-me: «A colhér foi-se juntar cem a da sr.ª Proh.»
—Isso é indigno!... mas socegue, Lisa, ha em tudo isto um mysterio que eu conseguirei descobrir, não descançarei emquanto a sua innocencia não estiver completamente reconhecida.
O joven pintor consegue acalmar um pouco a magua de Lisa, acompanha-a até á sua porta, e deixa-a promettendo-lhe mais uma vez que ha-de obrigar toda a gente a fazer-lhe justiça. Mas Casimiro promettia o que elle proprio não sabia como cumprir, porque debalde dava tratos á imaginação para adivinhar como era que as colhéres de prata desappareciam dos quartos onde Lisa passava a noite.
Depois de ter entrado um momento em sua casa, Casimiro sae, decidido a ir ter com Ambrosina, para saber se ella crê devéras que a rapariga seja criminosa. Mas já a aventura da noite é sabida em todo o predio; porque o primeiro cuidado de Adriana foi ir dizer ao porteiro que a menina Lisa deu em casa de sua ama segunda representação da noite em que ficara em casa da sr.ª Proh. Chausson, que sente certa sympathia pela inquilina do quinto andar, tem muita pena de ser obrigado a julgal-a criminosa, mas Rouflard, que escutou a creada de Ambrosina, diz-lhe:
—A menina é uma tola em ter má lingua! é mister ser imbecil, depois das historias da colhér perdida em casa da sr.ª Proh, para suppôr que uma rapariga que quizesse commetter um furto repetisse exactamente a mesma historia dois andares mais abaixo...
—Pois bem! então onde está a colhér?
—Que sei eu? debaixo das suas saias talvez....
—O senhor insulta-me, eu sou uma rapariga honrada, toda a gente o sabe, e tenho orgulho n’isso.
—Quem é honrada, não se gaba de o ser, não faz mais que o seu dever....
—Fica-lhe bem falar assim, o senhor que bebe orhumque lhe mandam comprar. Ah! eu sei essa historia; o porteiro tem-me contado as suas proezas.
—Contou-lhe tambem as d’elle, quando era meu creado?
—O senhor teve um creado? oh! é boa pilheria...
—Pouco me importa que o acredite ou não, não é de mim que se tracta, é da menina Lisa, que eu lhe prohibo accusar de furto.
—O senhor prohibe-me! Ah! eu não faço caso das suas prohibições, sim, a menina Lisa furtou uma cochér, ou duas, para melhor dizer...
Adriana dizia isto gritando com todas as suas forças; Rouflard está furioso. Ao barulho que se faz no patamar do primeiro andar, quasi todos os inquilinos do predio teem saído de suas casas, e Casimiro chega alli no momento em que Ambrosina vinhatambem á escada para ordenar á sua creada que se callasse.