CANTOS POPULARES BRAZILEIROS

CANTOS POPULARES BRAZILEIROS

(Da provincia do Ceará)

—Sinhá da casaVenha vêr seu pobre;Nem por vir pedirDeixo de ser nobre.«Não póde ser nobreQuem vem cá pedir;Não ha que lhe dar,Já póde seguir.»—Não usais commigoTanta ingratidão:D'este pobre cegoTende compaixão:«Eu não sou dona,Nem governo nada;A dona da casaAinda está deitada.»—Si está deitadaIde-a chamar,Que o pobre do cegoLhe quer fallar.«Acordai, senhoraDo doce dormir,Vinde ver o cegoCantar e pedir.»—«Si elle canta e pedeDae-lhe pão e vinho,Para o pobre do cegoSeguir seu caminho.Larga, Anninha, a róca,E tambem o linho,Vae ensinar o cegoSeguir seu caminho.»«Aqui fica a rócaAcabou o linho;Marchae, adiante, cego,Lá vae o caminho.»—Anda, anda, Anninha,Mais um boccadinho,Sou curto da vista,Não enchergo o caminho.«De conde e fidalgoMe vi perseguida;Hoje de um cegoMe vejo rendida.»—Cala-te, condessa,Prenda tão querida,Eu sou este condeQue te pretendia.«Cala-te, conde,Não digas mais nada,Só quero saiâmosD'aqui d'esta estrada.»Infinitas graçasVos dou, meu senhor,Já ter vencidoUm cruel amor.

—Sinhá da casaVenha vêr seu pobre;Nem por vir pedirDeixo de ser nobre.«Não póde ser nobreQuem vem cá pedir;Não ha que lhe dar,Já póde seguir.»—Não usais commigoTanta ingratidão:D'este pobre cegoTende compaixão:«Eu não sou dona,Nem governo nada;A dona da casaAinda está deitada.»—Si está deitadaIde-a chamar,Que o pobre do cegoLhe quer fallar.«Acordai, senhoraDo doce dormir,Vinde ver o cegoCantar e pedir.»—«Si elle canta e pedeDae-lhe pão e vinho,Para o pobre do cegoSeguir seu caminho.Larga, Anninha, a róca,E tambem o linho,Vae ensinar o cegoSeguir seu caminho.»«Aqui fica a rócaAcabou o linho;Marchae, adiante, cego,Lá vae o caminho.»—Anda, anda, Anninha,Mais um boccadinho,Sou curto da vista,Não enchergo o caminho.«De conde e fidalgoMe vi perseguida;Hoje de um cegoMe vejo rendida.»—Cala-te, condessa,Prenda tão querida,Eu sou este condeQue te pretendia.«Cala-te, conde,Não digas mais nada,Só quero saiâmosD'aqui d'esta estrada.»Infinitas graçasVos dou, meu senhor,Já ter vencidoUm cruel amor.

—Sinhá da casaVenha vêr seu pobre;Nem por vir pedirDeixo de ser nobre.

—Sinhá da casa

Venha vêr seu pobre;

Nem por vir pedir

Deixo de ser nobre.

«Não póde ser nobreQuem vem cá pedir;Não ha que lhe dar,Já póde seguir.»

«Não póde ser nobre

Quem vem cá pedir;

Não ha que lhe dar,

Já póde seguir.»

—Não usais commigoTanta ingratidão:D'este pobre cegoTende compaixão:

—Não usais commigo

Tanta ingratidão:

D'este pobre cego

Tende compaixão:

«Eu não sou dona,Nem governo nada;A dona da casaAinda está deitada.»

«Eu não sou dona,

Nem governo nada;

A dona da casa

Ainda está deitada.»

—Si está deitadaIde-a chamar,Que o pobre do cegoLhe quer fallar.

—Si está deitada

Ide-a chamar,

Que o pobre do cego

Lhe quer fallar.

«Acordai, senhoraDo doce dormir,Vinde ver o cegoCantar e pedir.»

«Acordai, senhora

Do doce dormir,

Vinde ver o cego

Cantar e pedir.»

—«Si elle canta e pedeDae-lhe pão e vinho,Para o pobre do cegoSeguir seu caminho.

—«Si elle canta e pede

Dae-lhe pão e vinho,

Para o pobre do cego

Seguir seu caminho.

Larga, Anninha, a róca,E tambem o linho,Vae ensinar o cegoSeguir seu caminho.»

Larga, Anninha, a róca,

E tambem o linho,

Vae ensinar o cego

Seguir seu caminho.»

«Aqui fica a rócaAcabou o linho;Marchae, adiante, cego,Lá vae o caminho.»

«Aqui fica a róca

Acabou o linho;

Marchae, adiante, cego,

Lá vae o caminho.»

—Anda, anda, Anninha,Mais um boccadinho,Sou curto da vista,Não enchergo o caminho.

—Anda, anda, Anninha,

Mais um boccadinho,

Sou curto da vista,

Não enchergo o caminho.

«De conde e fidalgoMe vi perseguida;Hoje de um cegoMe vejo rendida.»

«De conde e fidalgo

Me vi perseguida;

Hoje de um cego

Me vejo rendida.»

—Cala-te, condessa,Prenda tão querida,Eu sou este condeQue te pretendia.

—Cala-te, condessa,

Prenda tão querida,

Eu sou este conde

Que te pretendia.

«Cala-te, conde,Não digas mais nada,Só quero saiâmosD'aqui d'esta estrada.»

«Cala-te, conde,

Não digas mais nada,

Só quero saiâmos

D'aqui d'esta estrada.»

Infinitas graçasVos dou, meu senhor,Já ter vencidoUm cruel amor.

Infinitas graças

Vos dou, meu senhor,

Já ter vencido

Um cruel amor.

(Do Ceará)

Dom Jorge se namoravaD'uma mocinha mui bella,Pois que apanhando servidoOusou logo de ausentar-se,Em procura d'outra moçaPara com ella casar.Juliana que d'isso soubePegou logo a chorar,A mãe lhe perguntou:—De que choras minha filha?«É Dom Jorge, minha mãe,Que com outra vae casar.»—Bem te disse, Juliana,Que em homens não te fiasses;Não era dos primeirosQue as mulheres enganasse.—«Deus te salve, Juliana,No teu sobrado assentada!»«Deus te salve, rei Dom Jorge,No teu cavallo montado.Ouvi dizer, rei Dom JorgeQue estavas para casar?»—«É verdade, Juliana,Já te vinha desenganar.»«Esperae, rei Dom Jorge,Deixa eu subir a sobrado,Deixa buscar um copinhoQue tenho para ti guardado.»—«Eu lhe peço, Juliana,Que não haja falsidade;Olhe que sômos parentes,Prima minha, da minh'alma.»«Eu lhe juro por minha mãe,Pelo Deus que nos criou,Que rei Dom Jorge não lograEsse seu novo amor.»—«Que me deitas, Juliana,N'este seu copo de vinho,Estou com as redeas nas mãos,Não enchergo meu russinho.Ai qu'é do meu paisinho,Por elle pergunto eu?Eu morro, é de venenoQue Juliana me deu.—Morra, morra o meu filhinho,Morra contricto com Deus,Que a morte que te fizeramElla quem vinga sou eu.—«Valha-me Deus do céo,Que 'stou com uma grande dor;A maior pena que levoÉ não vêr meu novo amor.»

Dom Jorge se namoravaD'uma mocinha mui bella,Pois que apanhando servidoOusou logo de ausentar-se,Em procura d'outra moçaPara com ella casar.Juliana que d'isso soubePegou logo a chorar,A mãe lhe perguntou:—De que choras minha filha?«É Dom Jorge, minha mãe,Que com outra vae casar.»—Bem te disse, Juliana,Que em homens não te fiasses;Não era dos primeirosQue as mulheres enganasse.—«Deus te salve, Juliana,No teu sobrado assentada!»«Deus te salve, rei Dom Jorge,No teu cavallo montado.Ouvi dizer, rei Dom JorgeQue estavas para casar?»—«É verdade, Juliana,Já te vinha desenganar.»«Esperae, rei Dom Jorge,Deixa eu subir a sobrado,Deixa buscar um copinhoQue tenho para ti guardado.»—«Eu lhe peço, Juliana,Que não haja falsidade;Olhe que sômos parentes,Prima minha, da minh'alma.»«Eu lhe juro por minha mãe,Pelo Deus que nos criou,Que rei Dom Jorge não lograEsse seu novo amor.»—«Que me deitas, Juliana,N'este seu copo de vinho,Estou com as redeas nas mãos,Não enchergo meu russinho.Ai qu'é do meu paisinho,Por elle pergunto eu?Eu morro, é de venenoQue Juliana me deu.—Morra, morra o meu filhinho,Morra contricto com Deus,Que a morte que te fizeramElla quem vinga sou eu.—«Valha-me Deus do céo,Que 'stou com uma grande dor;A maior pena que levoÉ não vêr meu novo amor.»

Dom Jorge se namoravaD'uma mocinha mui bella,Pois que apanhando servidoOusou logo de ausentar-se,Em procura d'outra moçaPara com ella casar.

Dom Jorge se namorava

D'uma mocinha mui bella,

Pois que apanhando servido

Ousou logo de ausentar-se,

Em procura d'outra moça

Para com ella casar.

Juliana que d'isso soubePegou logo a chorar,A mãe lhe perguntou:—De que choras minha filha?«É Dom Jorge, minha mãe,Que com outra vae casar.»—Bem te disse, Juliana,Que em homens não te fiasses;Não era dos primeirosQue as mulheres enganasse.

Juliana que d'isso soube

Pegou logo a chorar,

A mãe lhe perguntou:

—De que choras minha filha?

«É Dom Jorge, minha mãe,

Que com outra vae casar.»

—Bem te disse, Juliana,

Que em homens não te fiasses;

Não era dos primeiros

Que as mulheres enganasse.

—«Deus te salve, Juliana,No teu sobrado assentada!»«Deus te salve, rei Dom Jorge,No teu cavallo montado.Ouvi dizer, rei Dom JorgeQue estavas para casar?»—«É verdade, Juliana,Já te vinha desenganar.»«Esperae, rei Dom Jorge,Deixa eu subir a sobrado,Deixa buscar um copinhoQue tenho para ti guardado.»—«Eu lhe peço, Juliana,Que não haja falsidade;Olhe que sômos parentes,Prima minha, da minh'alma.»«Eu lhe juro por minha mãe,Pelo Deus que nos criou,Que rei Dom Jorge não lograEsse seu novo amor.»—«Que me deitas, Juliana,N'este seu copo de vinho,Estou com as redeas nas mãos,Não enchergo meu russinho.Ai qu'é do meu paisinho,Por elle pergunto eu?Eu morro, é de venenoQue Juliana me deu.—Morra, morra o meu filhinho,Morra contricto com Deus,Que a morte que te fizeramElla quem vinga sou eu.—«Valha-me Deus do céo,Que 'stou com uma grande dor;A maior pena que levoÉ não vêr meu novo amor.»

—«Deus te salve, Juliana,

No teu sobrado assentada!»

«Deus te salve, rei Dom Jorge,

No teu cavallo montado.

Ouvi dizer, rei Dom Jorge

Que estavas para casar?»

—«É verdade, Juliana,

Já te vinha desenganar.»

«Esperae, rei Dom Jorge,

Deixa eu subir a sobrado,

Deixa buscar um copinho

Que tenho para ti guardado.»

—«Eu lhe peço, Juliana,

Que não haja falsidade;

Olhe que sômos parentes,

Prima minha, da minh'alma.»

«Eu lhe juro por minha mãe,

Pelo Deus que nos criou,

Que rei Dom Jorge não logra

Esse seu novo amor.»

—«Que me deitas, Juliana,

N'este seu copo de vinho,

Estou com as redeas nas mãos,

Não enchergo meu russinho.

Ai qu'é do meu paisinho,

Por elle pergunto eu?

Eu morro, é de veneno

Que Juliana me deu.

—Morra, morra o meu filhinho,

Morra contricto com Deus,

Que a morte que te fizeram

Ella quem vinga sou eu.

—«Valha-me Deus do céo,

Que 'stou com uma grande dor;

A maior pena que levo

É não vêr meu novo amor.»

(Do Ceará)

—Mouro, se fôres ás guerras,Trazei-me uma cativa!Que não seja das mais nobres,Nem tambem de villa minha;Seja das escolhidasQue em Castelhana havia.Saiu o Conde FloresFazer essa romaria:A Condessa como nobreFoi em sua companhia.Mataram o Conde Flores,Cativaram Lixandria,E trouxeram de presenteÁ rainha de Turquia.—«Vem cá, vem cá minha moura,Aqui está vossa cativa;»—Já vou entregar as chavesAs chaves da minha cozinha.«Entregae, entregae, senhora,Que a desgraça foi minha;Ainda hontem ser senhora,Hoje escrava da cosinha.Ao cabo de cinco mezesTiveram os filhos n'um dia;A moura teve um filho,A cativa uma filha.Levantou-se a mouraCom tres dias de parida,Foi á cama da escrava:—Como estaes, escrava minha?«Como hei de estar, senhora,Sempre na vossa cosinha.»Foi olhando para a criança,Foi achando muito linda:—Se estivesses em tua terraQue nome tu botarias?«Botaria Flores-Bella,Como uma mana que tinha,Que os mouros carregaramSendo ella pequenina.—Si tu a visses hojeTu a conhecerias?«Pelo signal que tinhaSó assim a conhecia!»—Que tinha um lirio roxoQue todo peito cobria!«Pelo signal que me dais,Bem parece mana minha.»—Vem cá, vem cá minha mouraQue te dizes tua cativa.«Eu já estou bem agastada,E já me vou anojarTu mandaste lá buscar,O teu cunhado matar.»—Si eu matei meu cunhadoOutro melhor te hei de dar.Farei tua irmã senhoraDa minha monarchia!«Eu não quero ser senhoraDa tua monarchiaQuero ir para a minha terraOnde eu assistia.»—Aprontae, aprontae a náo,Mais depressa em demasia.Para levar Lixandria,Ella e sua filhinha.«Adeus, adeus Flores-Bella!—Vae-te embora Lixandria.E dae lá muitas lembrançasÁ nossa parentaria.Que eu fico como mouraEntre tanta mouraria.»

—Mouro, se fôres ás guerras,Trazei-me uma cativa!Que não seja das mais nobres,Nem tambem de villa minha;Seja das escolhidasQue em Castelhana havia.Saiu o Conde FloresFazer essa romaria:A Condessa como nobreFoi em sua companhia.Mataram o Conde Flores,Cativaram Lixandria,E trouxeram de presenteÁ rainha de Turquia.—«Vem cá, vem cá minha moura,Aqui está vossa cativa;»—Já vou entregar as chavesAs chaves da minha cozinha.«Entregae, entregae, senhora,Que a desgraça foi minha;Ainda hontem ser senhora,Hoje escrava da cosinha.Ao cabo de cinco mezesTiveram os filhos n'um dia;A moura teve um filho,A cativa uma filha.Levantou-se a mouraCom tres dias de parida,Foi á cama da escrava:—Como estaes, escrava minha?«Como hei de estar, senhora,Sempre na vossa cosinha.»Foi olhando para a criança,Foi achando muito linda:—Se estivesses em tua terraQue nome tu botarias?«Botaria Flores-Bella,Como uma mana que tinha,Que os mouros carregaramSendo ella pequenina.—Si tu a visses hojeTu a conhecerias?«Pelo signal que tinhaSó assim a conhecia!»—Que tinha um lirio roxoQue todo peito cobria!«Pelo signal que me dais,Bem parece mana minha.»—Vem cá, vem cá minha mouraQue te dizes tua cativa.«Eu já estou bem agastada,E já me vou anojarTu mandaste lá buscar,O teu cunhado matar.»—Si eu matei meu cunhadoOutro melhor te hei de dar.Farei tua irmã senhoraDa minha monarchia!«Eu não quero ser senhoraDa tua monarchiaQuero ir para a minha terraOnde eu assistia.»—Aprontae, aprontae a náo,Mais depressa em demasia.Para levar Lixandria,Ella e sua filhinha.«Adeus, adeus Flores-Bella!—Vae-te embora Lixandria.E dae lá muitas lembrançasÁ nossa parentaria.Que eu fico como mouraEntre tanta mouraria.»

—Mouro, se fôres ás guerras,Trazei-me uma cativa!Que não seja das mais nobres,Nem tambem de villa minha;Seja das escolhidasQue em Castelhana havia.

—Mouro, se fôres ás guerras,

Trazei-me uma cativa!

Que não seja das mais nobres,

Nem tambem de villa minha;

Seja das escolhidas

Que em Castelhana havia.

Saiu o Conde FloresFazer essa romaria:A Condessa como nobreFoi em sua companhia.Mataram o Conde Flores,Cativaram Lixandria,E trouxeram de presenteÁ rainha de Turquia.

Saiu o Conde Flores

Fazer essa romaria:

A Condessa como nobre

Foi em sua companhia.

Mataram o Conde Flores,

Cativaram Lixandria,

E trouxeram de presente

Á rainha de Turquia.

—«Vem cá, vem cá minha moura,Aqui está vossa cativa;»—Já vou entregar as chavesAs chaves da minha cozinha.«Entregae, entregae, senhora,Que a desgraça foi minha;Ainda hontem ser senhora,Hoje escrava da cosinha.

—«Vem cá, vem cá minha moura,

Aqui está vossa cativa;»

—Já vou entregar as chaves

As chaves da minha cozinha.

«Entregae, entregae, senhora,

Que a desgraça foi minha;

Ainda hontem ser senhora,

Hoje escrava da cosinha.

Ao cabo de cinco mezesTiveram os filhos n'um dia;A moura teve um filho,A cativa uma filha.Levantou-se a mouraCom tres dias de parida,Foi á cama da escrava:—Como estaes, escrava minha?«Como hei de estar, senhora,Sempre na vossa cosinha.»

Ao cabo de cinco mezes

Tiveram os filhos n'um dia;

A moura teve um filho,

A cativa uma filha.

Levantou-se a moura

Com tres dias de parida,

Foi á cama da escrava:

—Como estaes, escrava minha?

«Como hei de estar, senhora,

Sempre na vossa cosinha.»

Foi olhando para a criança,Foi achando muito linda:—Se estivesses em tua terraQue nome tu botarias?«Botaria Flores-Bella,Como uma mana que tinha,Que os mouros carregaramSendo ella pequenina.—Si tu a visses hojeTu a conhecerias?«Pelo signal que tinhaSó assim a conhecia!»—Que tinha um lirio roxoQue todo peito cobria!«Pelo signal que me dais,Bem parece mana minha.»—Vem cá, vem cá minha mouraQue te dizes tua cativa.«Eu já estou bem agastada,E já me vou anojarTu mandaste lá buscar,O teu cunhado matar.»—Si eu matei meu cunhadoOutro melhor te hei de dar.Farei tua irmã senhoraDa minha monarchia!«Eu não quero ser senhoraDa tua monarchiaQuero ir para a minha terraOnde eu assistia.»—Aprontae, aprontae a náo,Mais depressa em demasia.Para levar Lixandria,Ella e sua filhinha.«Adeus, adeus Flores-Bella!—Vae-te embora Lixandria.E dae lá muitas lembrançasÁ nossa parentaria.Que eu fico como mouraEntre tanta mouraria.»

Foi olhando para a criança,

Foi achando muito linda:

—Se estivesses em tua terra

Que nome tu botarias?

«Botaria Flores-Bella,

Como uma mana que tinha,

Que os mouros carregaram

Sendo ella pequenina.

—Si tu a visses hoje

Tu a conhecerias?

«Pelo signal que tinha

Só assim a conhecia!»

—Que tinha um lirio roxo

Que todo peito cobria!

«Pelo signal que me dais,

Bem parece mana minha.»

—Vem cá, vem cá minha moura

Que te dizes tua cativa.

«Eu já estou bem agastada,

E já me vou anojar

Tu mandaste lá buscar,

O teu cunhado matar.»

—Si eu matei meu cunhado

Outro melhor te hei de dar.

Farei tua irmã senhora

Da minha monarchia!

«Eu não quero ser senhora

Da tua monarchia

Quero ir para a minha terra

Onde eu assistia.»

—Aprontae, aprontae a náo,

Mais depressa em demasia.

Para levar Lixandria,

Ella e sua filhinha.

«Adeus, adeus Flores-Bella!

—Vae-te embora Lixandria.

E dae lá muitas lembranças

Á nossa parentaria.

Que eu fico como moura

Entre tanta mouraria.»

(Pará)

Quanta laranja miuda,Quanta florinha no chão;Quanto sangue derramadoPor causa d'essa paixão.[58]Quem vae a Pará, parou;Quem bebe açahy ficou.

Quanta laranja miuda,Quanta florinha no chão;Quanto sangue derramadoPor causa d'essa paixão.[58]Quem vae a Pará, parou;Quem bebe açahy ficou.

Quanta laranja miuda,Quanta florinha no chão;Quanto sangue derramadoPor causa d'essa paixão.[58]

Quanta laranja miuda,

Quanta florinha no chão;

Quanto sangue derramado

Por causa d'essa paixão.[58]

Quem vae a Pará, parou;Quem bebe açahy ficou.

Quem vae a Pará, parou;

Quem bebe açahy ficou.

(S. Paulo)

Pinheiro, dá-mi uma pinha,Roseira dá-mi um botão,Morena, dá-mi um abraço,Que eu te dou meu coração.[59]

Pinheiro, dá-mi uma pinha,Roseira dá-mi um botão,Morena, dá-mi um abraço,Que eu te dou meu coração.[59]

Pinheiro, dá-mi uma pinha,Roseira dá-mi um botão,Morena, dá-mi um abraço,Que eu te dou meu coração.[59]

Pinheiro, dá-mi uma pinha,

Roseira dá-mi um botão,

Morena, dá-mi um abraço,

Que eu te dou meu coração.[59]

(Cuyabá)

O bicho pediu sertão,O peixe pediu fundura,O homem pediu riqueza,A mulher a formosura[60].

O bicho pediu sertão,O peixe pediu fundura,O homem pediu riqueza,A mulher a formosura[60].

O bicho pediu sertão,O peixe pediu fundura,O homem pediu riqueza,A mulher a formosura[60].

O bicho pediu sertão,

O peixe pediu fundura,

O homem pediu riqueza,

A mulher a formosura[60].

(Pará)

Te mandei um passarinho,Patuá mira pupé; (Dentro de uma caixa pequena)Pintadinho de amarelloIporãnga ne iavé. (E tão formoso como você.)

Te mandei um passarinho,Patuá mira pupé; (Dentro de uma caixa pequena)Pintadinho de amarelloIporãnga ne iavé. (E tão formoso como você.)

Te mandei um passarinho,Patuá mira pupé; (Dentro de uma caixa pequena)Pintadinho de amarelloIporãnga ne iavé. (E tão formoso como você.)

Te mandei um passarinho,

Patuá mira pupé; (Dentro de uma caixa pequena)

Pintadinho de amarello

Iporãnga ne iavé. (E tão formoso como você.)

(Amazonas)

Vamos dar a despedidaMandu sarará,Como deu o passarinhoMandu sarará;Bateu aza, foi-se embora,Mandu sarará,Deixou a pena no ninhoMandu sarará[61].

Vamos dar a despedidaMandu sarará,Como deu o passarinhoMandu sarará;Bateu aza, foi-se embora,Mandu sarará,Deixou a pena no ninhoMandu sarará[61].

Vamos dar a despedidaMandu sarará,Como deu o passarinhoMandu sarará;Bateu aza, foi-se embora,Mandu sarará,Deixou a pena no ninhoMandu sarará[61].

Vamos dar a despedida

Mandu sarará,

Como deu o passarinho

Mandu sarará;

Bateu aza, foi-se embora,

Mandu sarará,

Deixou a pena no ninho

Mandu sarará[61].

(De Ouro preto)

Vamos dar a despedida,Como deu a pintasilva;Adeus, coração de prata,Perdição da minha vida.

Vamos dar a despedida,Como deu a pintasilva;Adeus, coração de prata,Perdição da minha vida.

Vamos dar a despedida,Como deu a pintasilva;Adeus, coração de prata,Perdição da minha vida.

Vamos dar a despedida,

Como deu a pintasilva;

Adeus, coração de prata,

Perdição da minha vida.

Vamos dar a despedida,Como deu a saracura;Foi andando, foi dizendoMal de amores não tem cura.[62]

Vamos dar a despedida,Como deu a saracura;Foi andando, foi dizendoMal de amores não tem cura.[62]

Vamos dar a despedida,Como deu a saracura;Foi andando, foi dizendoMal de amores não tem cura.[62]

Vamos dar a despedida,

Como deu a saracura;

Foi andando, foi dizendo

Mal de amores não tem cura.[62]

(Maranhão)

Quem quizer comer mangabasVá no pé da mangubeira,Vá comendo, vá gostando,Vá mettendo na algibeira.Cajueiro pequeno,Carregado de flores,Eu tambem sou pequeno,Carregado de amores.Quando eu era pequenino,Que aprendia ob-a,bá,Minha mestra me ensinavaO Lundum do Mon-Roy.

Quem quizer comer mangabasVá no pé da mangubeira,Vá comendo, vá gostando,Vá mettendo na algibeira.Cajueiro pequeno,Carregado de flores,Eu tambem sou pequeno,Carregado de amores.Quando eu era pequenino,Que aprendia ob-a,bá,Minha mestra me ensinavaO Lundum do Mon-Roy.

Quem quizer comer mangabasVá no pé da mangubeira,Vá comendo, vá gostando,Vá mettendo na algibeira.

Quem quizer comer mangabas

Vá no pé da mangubeira,

Vá comendo, vá gostando,

Vá mettendo na algibeira.

Cajueiro pequeno,Carregado de flores,Eu tambem sou pequeno,Carregado de amores.

Cajueiro pequeno,

Carregado de flores,

Eu tambem sou pequeno,

Carregado de amores.

Quando eu era pequenino,Que aprendia ob-a,bá,Minha mestra me ensinavaO Lundum do Mon-Roy.

Quando eu era pequenino,

Que aprendia ob-a,bá,

Minha mestra me ensinava

O Lundum do Mon-Roy.

(De Cuyabá)

Em cima d'aquelle morroSiá dona!Tem um pé de jatobá;Não ha nada mais pióAi, siá dona!Do que um home se casá.

Em cima d'aquelle morroSiá dona!Tem um pé de jatobá;Não ha nada mais pióAi, siá dona!Do que um home se casá.

Em cima d'aquelle morroSiá dona!Tem um pé de jatobá;Não ha nada mais pióAi, siá dona!Do que um home se casá.

Em cima d'aquelle morro

Siá dona!

Tem um pé de jatobá;

Não ha nada mais pió

Ai, siá dona!

Do que um home se casá.

(De Cuyabá)

—Eu passei o ParnahybaNavegando n'uma barça;Os peccados vem da saia,Mas não pode vir da carça.«Dizem que a muié é farça,Tão farça como papé,Mas quem vendeu Jesus ChristoFoi home, não foi muié[63].

—Eu passei o ParnahybaNavegando n'uma barça;Os peccados vem da saia,Mas não pode vir da carça.«Dizem que a muié é farça,Tão farça como papé,Mas quem vendeu Jesus ChristoFoi home, não foi muié[63].

—Eu passei o ParnahybaNavegando n'uma barça;Os peccados vem da saia,Mas não pode vir da carça.

—Eu passei o Parnahyba

Navegando n'uma barça;

Os peccados vem da saia,

Mas não pode vir da carça.

«Dizem que a muié é farça,Tão farça como papé,Mas quem vendeu Jesus ChristoFoi home, não foi muié[63].

«Dizem que a muié é farça,

Tão farça como papé,

Mas quem vendeu Jesus Christo

Foi home, não foi muié[63].

(De Rio de Janeiro)

Sinhasinha, vá-se emboraVá p'ra casa direitinha,Não me faça como honteQue se me ficou no caminho.Não me encorrilhe meus babados,Não me suje meu collarinho.Cupidinho das quedas,Cae aqui cae acolá;Não venha cahir nos braçosDa minha amante Iá, Iá.Ora que gostosVocê mi dá!Gosto de ti,Ladrão, vem cá.Mandei fazer um anelNa ilha do PaquetáPara metter no dedinhoDa minha amante Iá Iá.

Sinhasinha, vá-se emboraVá p'ra casa direitinha,Não me faça como honteQue se me ficou no caminho.Não me encorrilhe meus babados,Não me suje meu collarinho.Cupidinho das quedas,Cae aqui cae acolá;Não venha cahir nos braçosDa minha amante Iá, Iá.Ora que gostosVocê mi dá!Gosto de ti,Ladrão, vem cá.Mandei fazer um anelNa ilha do PaquetáPara metter no dedinhoDa minha amante Iá Iá.

Sinhasinha, vá-se emboraVá p'ra casa direitinha,Não me faça como honteQue se me ficou no caminho.Não me encorrilhe meus babados,Não me suje meu collarinho.

Sinhasinha, vá-se embora

Vá p'ra casa direitinha,

Não me faça como honte

Que se me ficou no caminho.

Não me encorrilhe meus babados,

Não me suje meu collarinho.

Cupidinho das quedas,Cae aqui cae acolá;Não venha cahir nos braçosDa minha amante Iá, Iá.

Cupidinho das quedas,

Cae aqui cae acolá;

Não venha cahir nos braços

Da minha amante Iá, Iá.

Ora que gostosVocê mi dá!Gosto de ti,Ladrão, vem cá.

Ora que gostos

Você mi dá!

Gosto de ti,

Ladrão, vem cá.

Mandei fazer um anelNa ilha do PaquetáPara metter no dedinhoDa minha amante Iá Iá.

Mandei fazer um anel

Na ilha do Paquetá

Para metter no dedinho

Da minha amante Iá Iá.

(Ceará)

Lá nos campos de CendrêaMeu corpo vi maltratado!Tudo isto experimenteiSó por ser seu bem amado.Vem aos meus braços,Meu bem amado,Vem consolarUm desgraçado.Si eu não te quero bemDeus do céo me não escute;As estrellas me não vejam,A terra me não sepulte.Vem aos meus braços,Meu bem amado,Vem consolarUm desgraçado.N'aquelle primeiro amorQue no mundo teve a gente,O amor cravado n'almaÉ lembrado eternamente.Vem aos meus braços,Meu bem amado,Vem consolarUm desgraçado.

Lá nos campos de CendrêaMeu corpo vi maltratado!Tudo isto experimenteiSó por ser seu bem amado.Vem aos meus braços,Meu bem amado,Vem consolarUm desgraçado.Si eu não te quero bemDeus do céo me não escute;As estrellas me não vejam,A terra me não sepulte.Vem aos meus braços,Meu bem amado,Vem consolarUm desgraçado.N'aquelle primeiro amorQue no mundo teve a gente,O amor cravado n'almaÉ lembrado eternamente.Vem aos meus braços,Meu bem amado,Vem consolarUm desgraçado.

Lá nos campos de CendrêaMeu corpo vi maltratado!Tudo isto experimenteiSó por ser seu bem amado.

Lá nos campos de Cendrêa

Meu corpo vi maltratado!

Tudo isto experimentei

Só por ser seu bem amado.

Vem aos meus braços,Meu bem amado,Vem consolarUm desgraçado.

Vem aos meus braços,

Meu bem amado,

Vem consolar

Um desgraçado.

Si eu não te quero bemDeus do céo me não escute;As estrellas me não vejam,A terra me não sepulte.

Si eu não te quero bem

Deus do céo me não escute;

As estrellas me não vejam,

A terra me não sepulte.

Vem aos meus braços,Meu bem amado,Vem consolarUm desgraçado.

Vem aos meus braços,

Meu bem amado,

Vem consolar

Um desgraçado.

N'aquelle primeiro amorQue no mundo teve a gente,O amor cravado n'almaÉ lembrado eternamente.

N'aquelle primeiro amor

Que no mundo teve a gente,

O amor cravado n'alma

É lembrado eternamente.

Vem aos meus braços,Meu bem amado,Vem consolarUm desgraçado.

Vem aos meus braços,

Meu bem amado,

Vem consolar

Um desgraçado.

(Ceará)

—Aqui estou, minha senhora,Com dôr no meu coração,Bem contra minha vontadeFazer-lhe esta citação.«Tambem tenho minha casaMui da minha estimação;Tudo darei á penhora,Porem as cadeiras não.Tambem tenho minha camaCoberta de camellão,A barra de setim nobre,O forro de camellão;Tudo darei á penhora,Porem as cadeiras não.Tambem tenho cinco escravos,Tres negros e dois mulatosMui da minha estimação,Tudo darei á penhoraPorém as cadeiras não.—Venha cá, minha senhora,Deixe-se de tantas besteiras,Que no mundo não falta ourivesQue lhe faça outras cadeiras.

—Aqui estou, minha senhora,Com dôr no meu coração,Bem contra minha vontadeFazer-lhe esta citação.«Tambem tenho minha casaMui da minha estimação;Tudo darei á penhora,Porem as cadeiras não.Tambem tenho minha camaCoberta de camellão,A barra de setim nobre,O forro de camellão;Tudo darei á penhora,Porem as cadeiras não.Tambem tenho cinco escravos,Tres negros e dois mulatosMui da minha estimação,Tudo darei á penhoraPorém as cadeiras não.—Venha cá, minha senhora,Deixe-se de tantas besteiras,Que no mundo não falta ourivesQue lhe faça outras cadeiras.

—Aqui estou, minha senhora,Com dôr no meu coração,Bem contra minha vontadeFazer-lhe esta citação.

—Aqui estou, minha senhora,

Com dôr no meu coração,

Bem contra minha vontade

Fazer-lhe esta citação.

«Tambem tenho minha casaMui da minha estimação;Tudo darei á penhora,Porem as cadeiras não.

«Tambem tenho minha casa

Mui da minha estimação;

Tudo darei á penhora,

Porem as cadeiras não.

Tambem tenho minha camaCoberta de camellão,

Tambem tenho minha cama

Coberta de camellão,

A barra de setim nobre,O forro de camellão;Tudo darei á penhora,Porem as cadeiras não.

A barra de setim nobre,

O forro de camellão;

Tudo darei á penhora,

Porem as cadeiras não.

Tambem tenho cinco escravos,Tres negros e dois mulatosMui da minha estimação,Tudo darei á penhoraPorém as cadeiras não.

Tambem tenho cinco escravos,

Tres negros e dois mulatos

Mui da minha estimação,

Tudo darei á penhora

Porém as cadeiras não.

—Venha cá, minha senhora,Deixe-se de tantas besteiras,Que no mundo não falta ourivesQue lhe faça outras cadeiras.

—Venha cá, minha senhora,

Deixe-se de tantas besteiras,

Que no mundo não falta ourives

Que lhe faça outras cadeiras.

NOTAS DE RODAPÉ:[58]Ap. Couto de Magalhães,O Selvagem, P. II, p. 79.[59]Ibidem, p. 80.[60]Ibidem, p. 81.[61]Ibidem, 144—5.[62]Ibid. p. 146.[63]Ap.Noticia sobre a provincia de Matto-Grosso, por Ferreira Moutinho, p. 19.

[58]Ap. Couto de Magalhães,O Selvagem, P. II, p. 79.

[58]Ap. Couto de Magalhães,O Selvagem, P. II, p. 79.

[59]Ibidem, p. 80.

[59]Ibidem, p. 80.

[60]Ibidem, p. 81.

[60]Ibidem, p. 81.

[61]Ibidem, 144—5.

[61]Ibidem, 144—5.

[62]Ibid. p. 146.

[62]Ibid. p. 146.

[63]Ap.Noticia sobre a provincia de Matto-Grosso, por Ferreira Moutinho, p. 19.

[63]Ap.Noticia sobre a provincia de Matto-Grosso, por Ferreira Moutinho, p. 19.


Back to IndexNext